tarifas Americanas e o Cenário Político no Brasil

A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi considerada por Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central para Assuntos Internacionais, como uma estratégia sem fundamentos econômicos. Em entrevista à CNN, Schwartsman argumentou que essa medida, além de ser de natureza política, pode servir como um trunfo para a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Do ponto de vista político, isso é um presente para o governo atual. Eles estavam tentando apresentar o Congresso como o inimigo do povo, e agora têm um novo ‘inimigo comum’, que é o ‘grande irmão do norte’, o que é bastante conveniente para a atual gestão”, observou o economista.

A comunicação de Trump, feita por meio de uma carta publicada na plataforma Truth Social nesta quarta-feira (9), revela que a nova tarifa, que passará a valer em 1º de agosto, é, em parte, uma resposta à postura do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao tratamento do governo federal para com as redes sociais e as grandes empresas de tecnologia.

Schwartsman acrescentou que essa situação oferece ao governo a chance de apresentar essas ações como parte de uma estratégia política, colocando-se na posição de vítima. “Isso permite ao governo comunicar que as medidas são reativas e não proativas”, comentou.

O ex-diretor do BC também sugeriu que o governo pode usar a tarifa como um bode expiatório para justificar uma eventual desaceleração econômica no Brasil, prevendo que o impacto será mais sentido pelo setor manufatureiro do país. “As tarifas podem ter um efeito colateral negativo na nossa indústria”, disse.

Trump, que utiliza as tarifas de importação como uma ferramenta de pressão política, assim como fez com o México, o Canadá e a China, argumenta que sua intenção é corrigir assimetrias nas relações comerciais que os EUA mantêm com seus parceiros. Porém, a balança comercial já é desfavorável ao Brasil. Segundo dados, entre janeiro e junho deste ano, os Estados Unidos acumularam um superávit de cerca de US$ 1,7 bilhão na troca de mercadorias com o Brasil, o que leva Schwartsman a considerar a abordagem de Trump como “bastante tosca”.

“A motivação por trás dessa decisão não é apenas a questão da administração Bolsonaro, mas também o alinhamento do Brasil com o Brics, que Trump vê como uma conspiração para desvalorizar o dólar. Embora haja alguma verdade nesse temor, ninguém faz isso melhor do que Trump mesmo”, ironizou.

Além disso, o presidente americano já havia expressado anteriormente a intenção de aplicar tarifas sobre países que se alinhassem a grupos emergentes e adotassem ações que fossem classificadas como antagônicas aos interesses americanos.

No que diz respeito à economia interna, Schwartsman acredita que a decisão de Trump pode, de certa forma, facilitar a atuação do Banco Central brasileiro. “Essa medida pode ajudar a conter a atividade econômica, embora não seja uma solução milagrosa”, ressaltou. Ele ainda destacou que essa situação não deve provocar mudanças imediatas nas taxas da Selic, seja em direção ao aumento ou redução. “O que realmente importa aqui é o impacto político desse cenário”, finalizou.

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