O Impacto das Tarifas Americanas

No início de seu segundo mandato, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, implementou uma política econômica internacional focada na taxação comercial direcionada a diversos países. Com a oficialização do início das tarifas recíprocas a partir de 1º de agosto, Trump já selou acordos com seis nações, enquanto tem se afastado de negociações com blocos multilaterais como o Brics. Essa abordagem não apenas enfraquece a atuação conjunta do grupo, mas também coloca o Brasil em uma posição vulnerável, uma vez que o país enfrenta a possibilidade de uma tarifa de 50% sem qualquer avanço nas tratativas comerciais.

Até a última sexta-feira (25/7), a Casa Branca anunciou que formalizou acordos com Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão, além de um entendimento preliminar com a China. Esses acordos incluem:

  • Reino Unido: Redução das tarifas sobre carros, aço, etanol e carne, com uma tarifa base fixada em 10%.
  • China: Redução temporária das tarifas recíprocas, com uma tarifa base de 30%.
  • Vietnã: Redução das tarifas dos EUA para 20%, além de isenção sobre bens vietnamitas.
  • Indonésia: Uma tarifa base de 19% aplicada aos produtos, com acesso ao mercado americano.
  • Filipinas: Isenção de tarifas sobre produtos americanos e uma tarifa de 19% sobre os produtos filipinos.
  • Japão: Redução das tarifas recíprocas de 25% para 15%.

Consequências para o Brasil e o Brics

O professor Maurício F. Bento, especialista em economia internacional na Hayek Global College, comenta que Trump tem um desprezo claro pelo multilateralismo, preferindo negociações bilaterais. Ele considera o Brics uma ameaça à hegemonia dos EUA e do dólar. Bento alerta que, caso outros membros do Brics optem por tratativas individuais com os EUA, o Brasil poderá perder aliados na luta por uma postura coletiva contra as tarifas americanas.

“Ficar por último na fila das negociações pode ser perigoso para o Brasil, pois os EUA podem endurecer ainda mais sua posição para pressionar outros países a adotar posturas favoráveis aos seus interesses”, ressalta o especialista em entrevista ao Metrópoles. Ele acredita que o contexto atual pode forçar o Brasil a negociar sob pressão, mas é improvável que Trump reduza tarifas sem receber contrapartidas significativas.

Além disso, Bento destaca que os interesses americanos em relação ao Brasil transcendem questões tarifárias, incluindo preocupações sobre o sistema de pagamentos do Brasil, como o Pix, e o tratamento dado às grandes empresas de tecnologia, que são vistos como desfavoráveis aos interesses dos Estados Unidos.

Política Comercial e suas Implicações

Conforme analisa Maurício F. Bento, os acordos estabelecidos por Trump até o momento representam uma vitória para a sua agenda comercial, com a imposição de tarifas entre 10% e 30% em troca de concessões comerciais significativas. Ele observa que, a curto prazo, Trump conseguiu reverter a situação a favor dos EUA, protegendo os interesses comerciais internos e talvez atraindo mais investimentos por meio da realocação das estruturas produtivas das empresas.

No entanto, no médio e longo prazo, essa estratégia pode levar a uma perda de confiança nas promessas comerciais dos EUA, sugerindo uma instabilidade nas regras estabelecidas. “Os EUA estão minando o livre comércio global, um conceito que ajudaram a consolidar desde o século passado”, destaca o professor.

Recentemente, Trump, em postagens em suas redes sociais, compartilhou cartas enviadas aos líderes dos países impactados pelas novas tarifas, incluindo Indonésia, Filipinas, União Europeia, Brunei, Japão, Malásia, Coreia do Sul e, claro, Brasil. A lista é extensa e demonstra uma estratégia clara de isolamento e divisão que pode reverberar nas relações comerciais globais.

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