Mudanças nas Restrições de Importação de carne
Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, manifestou otimismo ao afirmar que o país irá vender “muita carne bovina” à Austrália, especialmente após o governo australiano anunciar, na última quinta-feira (24), uma flexibilização nas restrições à importação desse produto. Trump celebrou a nova medida, destacando que a carne americana é reconhecida como a “mais segura e a melhor do mundo”, e fez um alerta para outros países que optam por rejeitar a carne dos EUA: “estão avisados”. Contudo, especialistas do setor apontam que essa decisão não deverá resultar em um aumento significativo nas exportações americanas, visto que a Austrália se posiciona como um dos principais produtores e exportadores de carne bovina globalmente, praticando também preços mais competitivos.
Historicamente, as restrições australianas à carne americana remontam a 2003, quando preocupações com a encefalopatia espongiforme bovina (BSE), popularmente conhecida como “mal da vaca louca”, levaram a severas limitações nas importações. Apenas em 2019, a Austrália começou a aceitar carne de gado nascido, criado e abatido nos Estados Unidos. No entanto, a dificuldade em comprovar a origem do gado, que em muitos casos havia transitado por outros países como Canadá ou México, dificultou o comércio. Agora, o governo australiano defende que os avanços nos sistemas de rastreabilidade e controle dos Estados Unidos são suficientes para permitir a importação de carne bovina proveniente desses locais, sob a condição de que os animais sejam abatidos em solo americano.
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Impactos e Críticas à Nova Decisão
Autoridades da Austrália têm ressaltado que a flexibilização das regras de importação não está diretamente atrelada a negociações comerciais, mas é resultado de uma análise técnica detalhada dos padrões de biossegurança dos Estados Unidos ao longo dos anos. Em contrapartida, Trump e representantes do setor agropecuário dos EUA celebraram o relaxamento das barreiras como uma conquista, interpretando-a como uma redução de obstáculos ao livre comércio de carnes que, segundo eles, eram injustificados.
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Entretanto, a decisão gerou uma onda de críticas e preocupações, principalmente entre a oposição política e o setor agrícola australiano. O ministro da Agricultura na oposição, David Littleproud, levantou questionamentos sobre se o governo australiano estaria sacrificando os padrões rigorosos de qualidade apenas para agradar a Trump ou facilitar um encontro bilateral. Essa dúvida reflete um receio crescente sobre os potenciais riscos à pecuária local, incluindo a possibilidade de entrada de doenças e pragas prejudiciais.
Desigualdade nas Trocas Comerciais
No contexto das trocas comerciais entre os Estados Unidos e a Austrália, a situação se mantém desigual. Em 2024, a Austrália exportou cerca de 400 mil toneladas de carne bovina para os EUA, o que resultou em um total de aproximadamente US$ 2,9 bilhões. Em contrapartida, apenas 269 toneladas de carne americana foram enviadas para o território australiano, revelando um desnível significativo nas transações comerciais entre os dois países.
Além das discussões em torno da carne, a relação comercial entre os Estados Unidos e a Austrália é tensa, marcada por tarifas aplicadas a produtos australianos, que variam em torno de 10% em média, e até 50% sobre produtos de aço e alumínio. Trump também ameaçou impor tarifas ainda mais altíssimas sobre medicamentos, o que poderia acirrar ainda mais as tensões comerciais entre as nações.