Desafios e reações de líderes estaduais diante da política tarifária de Trump

Desde o dia 9 de julho, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Governadores alinhados à direita têm se esforçado para encontrar um ponto de equilíbrio. Eles buscam não desagradar o eleitorado bolsonarista, ao mesmo tempo em que tentam apoiar o empresariado local, que já sente os efeitos negativos da medida. A situação se complica especialmente com a proximidade das eleições de 2026, onde muitos desses Governadores aspiram a receber o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Logo após o anúncio, líderes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União), foram rápidos em apontar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como responsável pela crise causada pelas tarifas. Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, optou por uma postura mais neutra, publicando um vídeo onde se apresentava como uma opção não polarizada ao afirmar que os empresários desejam tranquilidade e paz. Contudo, ele não mencionou a tarifa, que Trump vinculou a um processo judicial que envolve Bolsonaro sobre uma tentativa de golpe de Estado.

Com a iminência da aplicação da tarifa, marcada para esta quarta-feira, 6, os Governadores começaram a adotar uma postura mais cautelosa, especialmente nas conversas com setores industriais e com o empresariado local. Embora essa abordagem tenha como premissa a proteção de interesses econômicos, também entrou em conflito com a posição do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem articulado medidas nos Estados Unidos em defesa de seu pai.

Especialistas consultados pelo Estadão afirmam que um dos principais obstáculos enfrentados pelos Governadores é a incerteza em relação aos efeitos da disputa comercial na economia nacional e, igualmente, a maneira como os eleitores irão interpretar essa dinâmica. As tensões em torno da intervenção americana prometem desdobramentos significativos nos próximos meses.

A ausência dos quatro Governadores no ato realizado na Avenida Paulista no último domingo, 3, sinaliza uma preocupação crescente e foi notada por aliados de Bolsonaro. O pastor Silas Malafaia, organizador da manifestação, chegou a questionar se eles estavam com medo do Supremo Tribunal Federal (STF). As pautas do protesto incluíam críticas ao ministro Alexandre de Moraes e ao presidente Lula, além de homenagens a Trump.

Entre os envolvidos, Tarcísio de Freitas enfrentou dificuldades em encontrar um discurso coeso. Após o anúncio de Trump, o governador criticou Lula por supostamente colocar a ideologia acima da economia, mas três dias depois, na busca por uma posição clara, indicou que a defesa de Bolsonaro poderia ser uma questão de perspectiva. Ele ressaltou que, como governador de um Estado crucial para a economia, sua prioridade é proteger os interesses locais.

A repercussão foi intensa, tanto de opositores que relembraram fotos de Tarcísio com um boné da campanha de Trump, quanto de bolsonaristas que o acusaram de tentar desviar o caminho sem considerar uma possível anistia a Bolsonaro. O próprio ex-presidente teve que intervir, elogiando Tarcísio e sugerindo que Eduardo não era tão maduro em suas críticas.

Por sua vez, Romeu Zema, apesar de apontar Lula como o culpado pelas tarifas, também endossou a ideia de que Bolsonaro é um perseguido político. No dia seguinte à declaração de Trump, o governador mineiro publicou um vídeo reafirmando seu apoio ao ex-presidente, mas com críticas às tarifas, defendendo que “erros e injustiças não devem ser corrigidos com mais erros”.

A situação se complicou ainda mais quando Zema, em entrevista ao Estadão/Broadcast, opinou que Eduardo havia criado um “problema” para a direita ao articular sanções com Trump, tornando-se, assim, um novo alvo das críticas do deputado. O governador do Paraná, por outro lado, destacou que “Bolsonaro não é mais importante do que a relação do Brasil com os Estados Unidos”. Durante um evento com investidores em São Paulo, Tarcísio lembrou que, se não houver uma atuação responsável, o Brasil poderá sofrer as consequências.

Enquanto isso, Ronaldo Caiado, que estava em viagem ao Japão, admitiu a possibilidade da implementação das tarifas e, ao retornar, anunciou linhas de crédito com juros mais baixos para ajudar as empresas locais a enfrentar os desafios. Em um evento realizado em São Paulo, Tarcísio, Caiado e Ratinho propuseram medidas de apoio e financiamento para atenuar os impactos das tarifas de Trump, uma iniciativa conjunta que ressalta a busca de um consenso entre os Governadores.

O cientista político Vinícius Alves, professor do IDP em São Paulo, alerta para o cálculo complexo que esses líderes precisam fazer ao tentar se viabilizar como candidatos à presidência em 2026, visando o eleitorado de Bolsonaro. “Eles precisam calibrar seu discurso para não afastar os bolsonaristas, mas também devem ter cuidado com as consequências dessa disputa, que ainda são incertas”, explica. A forma como a opinião pública perceberá essa situação também será crucial.

Segundo Alves, a dificuldade baseia-se na necessidade de balancear o apoio à narrativa bolsonarista, levando em conta os reflexos reais na economia e a percepção pública de aspectos mais simbólicos, como a defesa da soberania nacional e o patriotismo, temas que foram amplamente utilizados por Bolsonaro e seus aliados.

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