Impactos do tarifaço nas exportações
O recente tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos sob produtos importados do Brasil afeta mais profundamente as regiões Norte e Nordeste, conforme aponta uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV). A nova taxa, que alcança 50%, entrou em vigor na quarta-feira, 6 de agosto, e está gerando preocupação entre produtores locais.
A análise, conduzida pelo pesquisador Flávio Ataliba, que coordena o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste no Instituto Brasileiro de Economia da FGV Ibre, destaca que, apesar de apenas 3,9% das exportações da região Norte e 11,1% das do Nordeste terem os EUA como destino, as consequências financeiras são significativas.
“O impacto é especialmente forte em cadeias produtivas que já apresentam baixa capacidade de absorção interna e são dominadas por pequenos produtores e cooperativas”, afirma Ataliba, mencionando produtos como o mel natural do Piauí e frutas frescas de Pernambuco e Bahia como exemplos.
exportações do Nordeste: Um Olhar mais Detalhado
No Nordeste, o estado do Ceará se destaca com 44,9% das suas exportações destinadas aos Estados Unidos, tendo no seu portfólio itens como pescados, calçados e artigos de couro. A Paraíba acompanha, com 21,64% de suas exportações voltadas para os norte-americanos, focando principalmente em açúcar e calçados. Sergipe, por sua vez, fecha a lista dos principais exportadores nordestinos, com 17,1% de suas vendas externas dirigidas ao mercado dos EUA, destacando-se em sucos, resinas e óleos vegetais.
Esses dados mostram como a nova tarifa pode impactar setores locais que dependem fortemente das exportações, o que aumenta a pressão sobre a economia dessas regiões.
Comparação com Outras Regiões do Brasil
Enquanto o Nordeste e o Norte enfrentam desafios mais robustos, o Sudeste se destaca por ser a região mais industrializada do Brasil e, portanto, menos vulnerável ao tarifaço. A região é responsável por 71% das exportações brasileiras para os EUA e apresenta uma gama diversificada de produtos, incluindo manufaturados de alto valor agregado. Segundo Ataliba, itens como aeronaves e petróleo são exceções à tarifa de 50%, uma vantagem que beneficia o Sudeste.
O Centro-Oeste, com suas exportações de carnes, grãos e minérios, deve sofrer o menor impacto, enquanto o Sul, que fornece móveis e carnes, apresenta um risco considerado médio.
O Contexto do tarifaço e suas Implicações
A elevação na alíquota de importação, que passou para 50%, foi oficializada por uma ordem executiva assinada no final de julho. A justificativa do governo dos EUA para esta medida inclui a classificação do Brasil como um risco à segurança nacional, um ponto que tem gerado controvérsias.
A nova taxa resulta de uma sobretaxa de 40% acoplada aos 10% já existentes, sob a nomenclatura de “ajuste recíproco” abordando tarifas com os principais parceiros comerciais. Dentre as nações afetadas, o Brasil é o país que mais sofre com essa nova aplicação tarifária.
Com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, de 1977, o governo dos EUA também declarou uma nova emergência nacional voltada especificamente ao Brasil. Embora a alíquota de 50% tenha sido oficializada, produtos como suco e polpa de laranja, minérios de ferro e artigos de aeronaves civis, juntamente com combustíveis, foram excluídos da taxação, segundo uma lista divulgada pela Casa Branca.