Um Legado de Paz e Tensão

Brasil e Estados Unidos, duas potências do hemisfério ocidental, destacam-se por seu extenso território, vasto potencial populacional, ricas reservas de recursos naturais e uma robusta base industrial. Desde a primeira apresentação de credenciais de José Silvestre Rebello ao presidente James Monroe, em maio de 1824, o relacionamento entre essas nações foi predominantemente pacífico. Ao longo de 201 anos, apesar de algumas pequenas disputas, os laços se fortaleceram. No entanto, atualmente, a imposição de tarifas por Donald Trump trouxe um novo desafio a essa relação histórica.

A Transformação do Brasil Durante a Segunda Guerra Mundial

A iminência da Segunda Guerra Mundial forçou o Brasil a sair de sua apatia histórica. Na década de 1940, o país ainda não possuía universidades e sua população contava com aproximadamente 41 milhões de habitantes. Em contraste, os Estados Unidos já contavam com cerca de 132 milhões de pessoas. Naquela época, a taxa de analfabetismo era alarmante: 47% dos brancos brasileiros eram analfabetos, enquanto entre os negros, esse percentual saltava para 79%. Nos EUA, apenas 4% da população branca e 20% dos negros enfrentavam a mesma realidade. O Brasil era conhecido pela produção de café, enquanto os Estados Unidos se destacavam pela industrialização, beneficiada por uma extensa rede ferroviária que cruzava o país.

A Guerra e o Despertar de um País

Com a eclosão da guerra na Europa em 1º de setembro de 1939, quando as forças de Hitler invadiram a Polônia, o Brasil foi compelido a despertar de seu longo sono. Enquanto isso, os serviços de inteligência dos Estados Unidos começaram a perceber o perigo do controle nazista sobre o Senegal, uma colônia que poderia servir como base para operações militares na costa nordestina brasileira. O domínio nazista na região poderia comprometer as relações dos EUA com a Europa ao bloquear a passagem pelo Canal do Panamá.

Relações Militares e Desafios de Soberania

A única rota para abastecer os aliados na Europa e no Norte da África era através de Natal, no Rio Grande do Norte. Essa travessia vital permitiu que suprimentos chegassem às frentes de combate, mas a colaboração militar entre Brasil e Estados Unidos não ocorreu sem resistência. O governo americano tinha reservas sobre as Forças Armadas brasileiras, que eram vistas como mal equipadas e sob forte influência da antiga doutrina militar francesa. Havia também a preocupação de que a presença de tropas norte-americanas em solo brasileiro ameaçasse a soberania nacional. Adicionalmente, alguns generais brasileiros admiravam o profissionalismo das tropas alemãs, aumentando a desconfiança em relação aos aliados.

A Ascensão da Conflitividade

Submarinos alemães começaram a atacar navios brasileiros, primeiro em rotas para os Estados Unidos e, em seguida, em águas territoriais brasileiras, gerando uma onda de indignação entre a população civil. Isso levou o governo a agir, permitindo que a Pan American, através da Panair do Brasil, construísse aeroportos no norte e nordeste do Brasil. A Base Aérea de Parnamirim, em Natal, tornou-se uma das maiores operações do Exército dos Estados Unidos antes da invasão da Europa.

Novos Desafios e a Sombra da Desconfiança

Após a guerra, o Brasil e os Estados Unidos mantiveram um acordo de cooperação militar até o governo de Ernesto Geisel. No entanto, esse tratado foi rompido durante a presidência de Jimmy Carter, quando os EUA tentaram barrar os planos do Brasil para desenvolver um programa de energia nuclear. Embora o projeto tenha sido oficialmente arquivado, a Marinha brasileira continuou suas pesquisas e começou a enriquecer urânio. Hoje, o Brasil se prepara para lançar seu primeiro submarino nuclear, em meio a um clima de desconfiança por parte dos militares norte-americanos.

Para uma análise mais aprofundada sobre essa complexa relação, recomenda-se a leitura de “Irmãos de Armas: a aliança entre Brasil e Estados Unidos durante a Segunda Guerra e suas consequências”, de Frank D. McCann, uma obra que abrange 341 páginas de um estudo detalhado sobre o tema.

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