Medidas Drásticas Contra o Superendividamento

Nesta terça-feira (15 de julho), o primeiro-ministro francês, François Bayrou, apresentou um ambicioso plano para economizar € 43,8 bilhões no orçamento de 2026, em uma coletiva de imprensa que chamou a atenção de toda a nação. Com o que ele descreve como a ‘maldição’ do ‘superendividamento’, Bayrou anunciou um conjunto de medidas que inclui congelamento dos gastos públicos, salários e aposentadorias. Uma das propostas mais polêmicas envolve a supressão de dois feriados, gerando uma onda de reações na classe política.

“Existem momentos na trajetória de um povo em que ele precisa se reavaliar, e este é um desses tempos”, enfatizou o primeiro-ministro. “Estamos diante do nosso momento da verdade”, completou, acompanhado pela maior parte de sua equipe ministerial.

O conceito de ‘superendividamento’, que leva o governo francês a contrair empréstimos mensais para custear aposentadorias e salários de funcionários públicos, foi descrito por Bayrou como uma ‘maldição sem saída’. Ele destacou que, a cada segundo, a dívida do país cresce em € 5.000.

O primeiro-ministro também afirmou que a França se tornou ‘viciada’ em despesas públicas, ao introduzir um plano dividido em duas partes: a primeira focada em conter o aumento da dívida e a segunda voltada para impulsionar a produtividade.

dívida e Déficit em Números Significativos

Atualmente, o déficit público da França está em 5,8% do PIB, enquanto a dívida pública representa quase 114% do PIB, posicionando o país como o terceiro mais endividado da zona do euro, atrás apenas de Grécia e Itália. O plano plurianual começará a ser implementado em 2026, com a meta de estabilizar a dívida em um período de quatro anos. Bayrou garantiu que todos os setores terão de ‘apertar o cinto’, mas assegurou que as medidas de austeridade não prejudicarão a competitividade das empresas francesas.

Inicialmente, o corte previsto no orçamento era de € 40 bilhões, mas esse número foi ajustado para quase € 44 bilhões, levando em consideração despesas adicionais com defesa. “A guerra voltou e não podemos permitir que nossos cidadãos fiquem apenas à mercê das decisões americanas”, justificou Bayrou, referindo-se ao conflito na Ucrânia e à necessidade de um ‘esforço de rearmamento’ que una as nações europeias.

Bayrou também anunciou que o estado irá liderar pelo exemplo, não aumentando os gastos em 2026 em relação a 2025. De acordo com o primeiro-ministro, os cortes afetarão todos os ministérios, exceto o da Defesa. Algumas agências poderão ser desmanteladas e fusões ministeriais estão em consideração.

Saúde e Congelamento de Salários

O plano inclui ainda uma revisão na gestão do sistema de saúde, com a meta de economizar através de um controle mais rígido sobre o reembolso de medicamentos e um foco em prevenção de doenças, como vacinação, que pode gerar uma economia de cerca de € 5 bilhões em 2026, segundo Bayrou.

Medidas para combater fraudes no sistema de saúde, fiscal e em ajudas sociais também fazem parte do pacote. O congelamento de salários para funcionários públicos e aposentadorias durante 2026 é uma das principais ações anunciadas, enquanto os programas de assistência social devem permanecer intactos.

Uma proposta de ‘imposto de solidariedade’ para os mais ricos foi divulgada, com a intenção de tornar o esforço fiscal mais equitativo, embora detalhes adicionais ainda não tenham sido esclarecidos. Além disso, o primeiro-ministro sugeriu a eliminação de dois feriados, possivelmente a Segunda-feira de Páscoa e o 8 de maio, celebrado pela vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, para estimular a atividade econômica da França, considerada insuficiente.

Desafios e Reações da Oposição

Bayrou finalizou sua apresentação afirmando que tomou a decisão de envolver ‘todos’ no processo. Reconhecendo a falta de uma maioria sólida, ele admitiu que seu governo está ‘à mercê da oposição’, que pode se unir, levando-o a uma situação similar à de seu antecessor Michel Barnier, que teve seu governo derrubado devido a questões orçamentárias.

As reações à proposta inicial foram de descontentamento. A eliminação de feriados foi classificada como uma ‘provocação’ e um ‘ataque direto à história e aos trabalhadores da França’, por Jordan Bardella, presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional. A líder do partido de esquerda radical, A França Insubmissa, Mathilde Panot, alfinetou: ‘Bayrou está declarando uma guerra social’.

A expectativa em torno do ‘imposto solidário’ e sua eficácia para conquistar o apoio do Partido Socialista permanece incerta, uma vez que a união entre os partidos LFI e RN pode ser suficiente para ameaçar o governo de Bayrou.

“As propostas orçamentárias de François Bayrou são inaceitáveis para nós”, afirmou o deputado socialista Philippe Brun, exigindo uma revisão substancial do plano para que o orçamento tenha chances de sucesso.

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