A rede de supermercados St. Marche obteve, na terça-feira, dia 18 de fevereiro, uma medida de proteção judicial parcial, que terá validade por 60 dias, contra a cobrança de dívidas totalizando expressivos R$ 639 milhões. A solicitação foi feita à Justiça no dia anterior, 17 de fevereiro, após o fundo FIDC Alternative Assets I, do BTG Pactual — que é o principal credor do grupo — declarar o vencimento antecipado de um débito no valor de R$ 275 milhões. Esse tipo de demanda, tecnicamente conhecido como tutela cautelar antecedente, é frequentemente utilizado por empresas em dificuldades como uma estratégia para ganhar tempo na reestruturação de suas dívidas, geralmente visando uma recuperação judicial eficaz.

O St. Marche, conforme indicado na solicitação analisada pela 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, vem atravessando sérios desafios relacionados à manutenção de seu capital de giro. No mês anterior, o faturamento bruto da rede alcançou cerca de R$ 94 milhões, dos quais R$ 60 milhões estavam comprometidos com garantias. Como resultado, o fluxo de caixa do grupo registrou um déficit de R$ 10 milhões, após o pagamento de compromissos que totalizaram R$ 103 milhões.

Essa situação financeira preocupante se agravou com a recente declaração de vencimento antecipado da dívida relacionada ao fundo do BTG, levando a rede a buscar um procedimento arbitral para negociação dos débitos, dentro de um contexto mais amplo de recuperação extrajudicial. Segundo informações do St. Marche, as dificuldades financeiras já estão impactando diretamente suas operações. O nível de estoque diminuiu de R$ 110 milhões para R$ 93 milhões, o que, por sua vez, afetou negativamente a percepção dos consumidores e a capacidade de geração de receita.

Recentemente, o juiz Jomar Juarez Amorim decidiu conceder a suspensão temporária das execuções contra o grupo por um período de 60 dias, mas essa proteção aplica-se apenas às dívidas sem garantias. O magistrado não aceitou a extensão da medida para débitos cujo vencimento foi antecipado e que estão garantidos por bens ou recebíveis, como aquelas comprometidas com vendas no cartão de crédito. Além disso, ele não autorizou a liberação dos valores que já estavam vinculados a credores, o que torna a situação ainda mais desafiadora para o grupo.

Na sua decisão, o juiz mencionou que o St. Marche alegou ter investido consideráveis recursos na abertura de novas lojas entre julho de 2021 e agosto de 2023. Contudo, a rede não conseguiu realizar a sua abertura de capital por conta do ambiente econômico adverso que o país enfrenta. Além disso, a recente elevação da taxa selic tornou-se um fator crítico, pois aumentou os custos financeiros da rede, complicando ainda mais a sustentabilidade de suas operações.

A situação financeira da rede foi ainda mais complexificada pelo caso recente da Americanas, que impactou o comportamento dos credores dentro do setor varejista. Essa mudança se reflete especialmente nas operações de risco-sacado, onde instituições financeiras assumem as dívidas das companhias com seus fornecedores, criando um ambiente de desconfiança.

A história do St. Marche começou há mais de 20 anos, com a inauguração de sua primeira loja no bairro do Morumbi, em São Paulo. Em 2007, o grupo deu um passo significativo ao adquirir o Empório Santa Maria, que é um mercado gourmet estabelecido em 1993 pela família Piva de Albuquerque. Atualmente, o empório ainda mantém duas unidades em funcionamento.

Hoje, o St. Marche conta com um total de 33 lojas, possui um centro de distribuição e um escritório central, empregando diretamente cerca de 2,3 mil colaboradores. A sustentabilidade do grupo está sob intensa observação, e a espera pela recuperação financeira poderá determinar não só o futuro da marca, mas também a continuidade dos empregos de seus funcionários e a relação com seus consumidores.

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