O aquecimento global, intensificado pela ação humana, tem avançado a passos alarmantes, atingindo um aumento médio de 0,27°C por década entre 2015 e 2024, conforme revelam cientistas de renomadas instituições de pesquisa. Esse fenômeno está intimamente ligado ao aumento das emissões de gases de efeito estufa, que, em grande parte, resultam da queima de combustíveis fósseis. Em 2024, essas emissões atingiram um novo recorde, com uma média anual de 53 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂). Enquanto isso, as partículas poluentes que normalmente atuam como agentes de resfriamento na atmosfera estão em declínio, o que agrava ainda mais a situação climática. O estudo que aborda essas questões foi publicado na revista Earth System Science Data e é fruto da colaboração de pesquisadores de 17 países, que utilizaram metodologias alinhadas às diretrizes do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU. A maioria dos pesquisadores envolvidos já fez parte desse grupo especializado.

O principal objetivo desse estudo é fornecer dados atualizados anualmente, eliminando a necessidade de aguardar o próximo relatório do IPCC, que pode levar anos para ser publicado. Em 2024, o aquecimento global em comparação com a era pré-industrial alcançou 1,52°C, dos quais 1,36°C são diretamente atribuídos às atividades humanas. A diferença restante é explicada pela variabilidade climática natural, especialmente em relação ao fenômeno do El Niño. De acordo com Christophe Cassou, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), o nível de aquecimento é preocupante, mas “esperado”, considerando a influência das ações humanas e os fenômenos naturais. Importante ressaltar que, embora esse aumento seja significativo, ele ainda não ultrapassa o limite de 1,5°C estabelecido no Acordo de Paris, que é calculado a partir de médias de longo prazo. No entanto, o tempo está se esgotando rapidamente para que ações efetivas sejam implementadas.

A quantidade restante de carbono que pode ser emitida, mantendo uma chance de 50% de limitar o aquecimento a 1,5°C, está reduzida a cerca de 130 bilhões de toneladas, o que representa pouco mais de três anos de emissões no ritmo atual. Um ano atrás, esse “saldo de carbono” era de aproximadamente 200 bilhões de toneladas. Pierre Friedlingstein, um dos autores do estudo, observa que “o limite de 1,5°C agora é inevitável”. Piers Forster, principal autor da pesquisa e professor na Universidade de Leeds, expressa um otimismo cauteloso, mas também ressalta que a direção atual dos dados é preocupante.

Neste estudo, os pesquisadores introduziram dois novos indicadores, incluindo o aumento do nível do mar, que é consequência do aquecimento global e do derretimento das geleiras. Entre 2019 e 2024, a taxa de elevação do nível do mar mais do que dobrou, alcançando cerca de 26 mm, enquanto a média anterior era de menos de 2 mm por ano desde o início do século XX. Desde o começo do século passado, o nível dos oceanos aumentou 22,8 cm, resultando em um potencial destrutivo maior para tempestades e ameaçando a sobrevivência de várias nações insulares. Essa elevação contínua do nível do mar é um processo complexo e apresenta uma grande inércia, o que significa que continuará mesmo que as emissões cessem imediatamente.

No entanto, isso não implica que a humanidade esteja sem opções. A climatologista Valérie Masson-Delmotte enfatiza a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para mitigar a velocidade e a magnitude do aumento do nível do mar. Com a COP30 se aproximando no brasil, as políticas climáticas enfrentam desafios adicionais, especialmente após a decisão do governo de Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris. Aurélien Ribes, do Centro Nacional de Pesquisas Meteorológicas, alerta que qualquer mudança nas políticas públicas que resulte em aumento ou manutenção das emissões terá consequências diretas sobre o clima e o aquecimento nos próximos anos.

A situação é crítica e exige ação imediata. O aquecimento global é um desafio que não afeta apenas o meio ambiente, mas também a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. O futuro do nosso planeta depende das decisões que tomamos hoje.

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