Você sabia que o rinoceronte Thor, residente do zoológico de brasília, tem preferências alimentares curiosas? Por exemplo, ele não aprecia jiló nem banana, enquanto seu vizinho, o hipopótamo Yulli, simplesmente não gosta de abóbora. A girafa Yaza também tem suas preferências: ela rejeita a batata-doce. Já os jacarés do zoológico mantêm uma rotina alimentar particular, se alimentando apenas uma vez por semana, sempre nas manhãs de segunda-feira.
Para atender a essas exigências nutricionais específicas de cada habitante do zoológico, a equipe do Centro de Nutrição realiza um trabalho altamente especializado. Ao todo, são preparadas cerca de uma tonelada de alimentos diariamente, dividida em 520 refeições que atendem aos mais de 600 animais que habitam o local. Cada dieta é cuidadosamente planejada, levando em consideração fatores como a idade, estado de saúde e eventuais restrições alimentares de cada espécie. Filhotes, animais idosos e aqueles com necessidades alimentares especiais recebem cuidados adicionais para garantir uma nutrição adequada.
“A nutrição dos animais ultrapassa o simples ato de alimentá-los. Realizamos um estudo detalhado para assegurar que cada espécie receba uma dieta balanceada, de acordo com suas necessidades específicas”, explica o responsável pelo zoológico.
A rotina de preparação dos alimentos é minuciosa e essencial. Os profissionais da equipe de nutrição, que conta com 12 integrantes, incluindo duas zootecnistas, têm a responsabilidade de limpar, picar e cozinhar os alimentos que serão distribuídos para os diversos recintos. O processo envolve uma organização meticulosa, que vai desde a higienização dos ingredientes até a entrega final. “Todo o trabalho é realizado de forma planejada. Diariamente, retiramos da câmara de congelamento a quantidade de carne que será utilizada no amanhã e a armazenamos em um ambiente refrigerado. As rações também são pesadas com antecedência e separadas em bandejas, categorizadas por espécie”, esclarece a diretora de Nutrição do zoológico de brasília.
Os ingredientes perecíveis, como frutas, legumes e verduras, são preparados diariamente, a partir das 7h, para garantir a máxima frescura e qualidade. O corte e a separação dos alimentos são feitos em cinco estações distintas, cada uma dedicada a um grupo alimentar específico: micário para pequenos mamíferos como saguis; aves, que atende a várias espécies de pássaros; gatário, focado nos felinos; África, com dietas específicas para girafas e zebras; e américa, que abrange espécies nativas do continente americano, como antas e tamanduás. Os alimentos preparados são então mixados com as rações e carnes, em conformidade com as dietas definidas para cada animal. “Nosso objetivo é assegurar uma alimentação rica em nutrientes, promovendo uma dieta equilibrada e saudável para todas as espécies”, destaca a zootecnista.
A tratadora de animais Joseilda Gabriel Soares, com 50 anos e uma década de experiência na área de nutrição, expressa a satisfação que sente ao participar deste processo vital. “Chegamos cedo e aguardamos ansiosamente a hora de liberar as dietas. Cada atividade é realizada com dedicação e carinho”, relata, orgulhosa de sua trajetória de mais de 25 anos no zoológico, que inclui experiências em setores como aves e enriquecimento ambiental. “É gratificante observar de perto o comportamento dos animais e testemunhar seu desenvolvimento ao longo do tempo”, acrescenta.
Variedade e qualidade são aspectos fundamentais na alimentação dos animais do zoológico. Os ingredientes utilizados nas refeições são adquiridos por meio de processo licitatório e incluem em torno de 30 tipos de hortifrúti, além de carnes diversas, como músculo bovino, frango inteiro, fígado e tilápia, complementadas por ovos, sais minerais e suplementos vitamínicos. As rações ficam estocadas por até três meses, enquanto carnes congeladas são mantidas por até dois meses. Os produtos frescos são adquiridos duas vezes por semana para assegurar a qualidade. O zoológico ainda conta com um biotério dedicado à criação de camundongos, ratos e preás, que servem de alimento para as serpentes e aves de rapina, como águias e gaviões.
Tatiane Berloni, a diretora de Nutrição, ressalta a importância de oferecer presas inteiras. “Isso é essencial para estimular o comportamento alimentar natural dos animais e garantir uma nutrição completa,” explica. As serpentes apresentam hábitos alimentares variados, com algumas consumindo alimentos a cada 15 dias, outras mensalmente, enquanto a cobra-cipó se alimenta semanalmente. Já as aves de rapina têm uma dieta composta por presas oferecidas duas vezes por semana.
A logística de distribuição das refeições é igualmente complexa. Em áreas como as ilhas dos macacos, por exemplo, as equipes precisam adotar estratégias que garantam que os animais possam acessar a comida de maneira segura, respeitando seus comportamentos naturais e evitando o contato humano. Os alimentos são transportados em veículos apropriados e distribuídos nos recintos pelos tratadores em diferentes horários ao longo do dia. A primeira refeição é oferecida às 8h, contemplando grandes felinos, primatas e aves, que necessitam de mais energia pela manhã. Alimentações subsequentes ocorrem às 9h, 11h, 14h e 15h30, variando conforme as necessidades de cada espécie.
Para incentivar comportamentos naturais, os alimentos são espalhados e ocultados nos recintos, estimulando os animais a buscá-los da mesma forma que fariam em seu habitat natural. Além disso, há sempre uma quantidade maior de alimentos do que o necessário, evitando disputas entre os animais. A dieta é complementada com feno, capim fresco, ossos e insetos, conforme a alimentação específica de cada espécie.
“O bem-estar dos animais vai além da nutrição. Estamos sempre em busca de estratégias que tornem suas vidas mais agradáveis e que despertem seus instintos naturais,” conclui Tatiane. O acompanhamento contínuo do comportamento alimentar possibilita que ajustes nas dietas sejam realizados sempre que necessário. “É normal que sobrando cerca de 5% da comida oferecida, mas se esse número aumentar ou se o animal deixar de se alimentar, investigamos imediatamente a situação,” acrescenta.