Desafios da Maternidade em Tempos de Guerra

Na maternidade de Odessa, uma cidade portuária estratégica no sul da Ucrânia, o ato de dar à luz acontece sob a sombra constante do medo e da vulnerabilidade. Na madrugada da última quarta-feira (10), a Rússia disparou 458 drones e mísseis, causando pânico e resultando em pelo menos uma fatalidade. O som das sirenes ecoa nos corredores enquanto as mães enfrentam o que deveria ser um dos momentos mais felizes de suas vidas, cercadas pela incerteza e pela destruição.

A pequena Amelia, nascida no último sábado (6), apenas algumas horas após seu nascimento, dormia calmamente em seu berço, quando uma explosão devastadora atingiu um edifício próximo à maternidade. “Descemos para o subsolo, foi assustador”, compartilhou Olga, mãe da recém-nascida. “Ouvíamos os drones Shahed e as explosões ao longe. As janelas estavam barricadas, mas tudo tremia. Ficamos lá até as cinco da manhã, e logo outra sirene soou, desta vez para alertar sobre mísseis Kalibr. Tivemos que descer novamente para a segurança do abrigo.”

A Decisão de Ter Filhos em Tempos de Crise

A invasão da Rússia na Ucrânia há mais de três anos alterou drasticamente a vida das famílias, levando a um ciclo interminável de alertas e evacuações. Irina Golovotiuk Iouzovpolskaya, diretora da maternidade, afirmou que o número de nascimentos caiu cerca de 40% desde o início do conflito. “Após noites de ataques intensos, muitas mulheres optam por deixar a cidade. No dia seguinte, durante as consultas, ouvimos frequentemente notícias de pacientes que decidiram ir embora, buscando locais mais seguros, como a Moldávia, para dar à luz”, contou ela.

Em um dos quartos da maternidade, Macha e seu marido Iaroslav se preparavam para sair com seu recém-nascido, Micha. “Vamos ter que pensar seriamente em adaptar nosso porão para a segurança da nossa família”, disse Macha, que lutou por anos para engravidar. “É a guerra, sim, mas a vida deve continuar. Como viver sem filhos? Essas crianças merecem crescer em um ambiente de paz, e não em abrigos subterrâneos”, lamentou, acariciando seu bebê.

Desafios Persistentes e Onda de Violência

A maternidade já havia sofrido danos em um bombardeio anterior, em junho, mas, felizmente, sem feridos. No entanto, os ataques continuam com intensidade. Durante a noite de sábado para domingo, a tragédia atingiu Kiev, onde três pessoas, incluindo um recém-nascido, perderam a vida devido a bombardeios. O prefeito Vitali Klitchko confirmou também que duas mulheres estavam entre as vítimas. O chefe da administração militar da capital, Timour Tkatchenko, acusou Moscou de visar deliberadamente alvos civis, refletindo a brutalidade do conflito.

Escalada da Ofensiva Russa

A ofensiva russa se intensificou na madrugada de quarta-feira (10), com a Força Aérea da Ucrânia reportando o disparo de 458 drones e mísseis. Desse total, 415 foram drones e 43 mísseis, o que resultou em pelo menos uma morte, segundo as autoridades locais. Essa operação foi uma das maiores registradas nos últimos tempos, evidenciando a crescente escalada da violência no país.

Além disso, a Ucrânia informou que pelo menos oito drones russos cruzaram a fronteira e adentraram a Polônia, um membro da OTAN, que confirmou a neutralização de “objetos hostis” em seu espaço aéreo. Esse incidente reacendeu preocupações sobre a possibilidade de uma escalada regional do conflito, trazendo à tona um sentimento de insegurança que permeia não só a Ucrânia, mas toda a região.

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