O crescimento robusto da economia brasileira, impulsionado pela indústria, entre as duas grandes guerras mundiais no século XX, revela um horizonte de oportunidades significativo para o Brasil nos dias atuais. Essa análise foi ressaltada pelo diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI em um importante evento, o “Fórum Estadão Think – A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã”, realizado na sede da Fiesp.
Ele destacou que o Brasil experimentou um crescimento notável durante um período de crise de hegemonia global no passado. “Por cinco décadas, o país esteve entre os que mais se desenvolveram no mundo”, afirmou, frisando que o cenário atual, embora com condições fiscais desafiadoras, apresenta semelhanças.
Para reforçar sua perspectiva, o especialista mencionou três processos globais que estão em pauta: a nova revolução industrial, que se fundamenta em big data, internet das coisas e inteligência artificial; os extremos climáticos que aceleram a urgência de uma transição energética; e as dinâmicas da nova geopolítica, marcada pelo distanciamento entre o Ocidente e o Oriente, semelhante ao que ocorreu entre os anos 1920 e 1980.
“É imprescindível que avancemos além das discussões sobre questões fiscais. Precisamos de uma estratégia robusta e uma missão clara. A reindustrialização deve ser parte de uma política de Estado”, destacou. Apesar de a janela de oportunidades para a indústria brasileira ser estreita, ele defende que a ambição é fundamental para aproveitar esse potencial.
O especialista alertou que o Brasil é um dos países que mais retrocedeu em competitividade devido à falta de políticas industriais eficazes. Enquanto países desenvolvidos investem cerca de US$ 13 trilhões em iniciativas desse tipo, o Brasil enfrenta um desafio significativo. “A dependência do rentismo em vez da produção comprometerá o futuro do Brasil”, complementou.
A indústria nacional, segundo ele, necessita urgentemente de um plano semelhante ao Plano Safra, que foi essencial para o crescimento do agronegócio nos últimos 20 anos. No entanto, a questão tributária continua a gerar incertezas. O presidente do Ciesp enfatizou que a extensa lista de benefícios tributários pode distorcer os resultados da reforma que está em discussão no Congresso.
“A alíquota média deve girar em torno de 26%, mas sem algumas distorções poderia ser reduzida para 20%. Essa análise precisa ser urgente”, afirmou. A reforma administrativa, um tema igualmente crucial, também requer atenção, segundo o representante do Ciesp.
Além das questões fiscais e tributárias, é vital que o Brasil enfrente outros desafios para reverter a curva decrescente da indústria. O presidente da Firjan salientou que a insegurança pública representa um enorme gargalo, causando bilhões de reais em perdas. Desde a dificuldade enfrentada pelos trabalhadores em suas rotinas diárias até o roubo de bens e crimes eletrônicos, o impacto é profundo.
“Atividades ilegais cibernéticas, como o roubo de propriedade intelectual, afetam severamente a sociedade como um todo”, alertou. Ele argumentou que a insegurança no setor industrial deve ser abordada de forma holística, integrando esforços de prevenção e combate.
Em resumo, o Brasil enfrenta uma encruzilhada em seu crescimento industrial, necessitando urgentemente de políticas abrangentes que considerem a complexidade da situação atual. Para transformar as oportunidades em resultados concretos, é essencial promover a reindustrialização por meio de estratégias eficazes, uma reavaliação da tributação e um compromisso com a segurança, garantindo um ambiente propício ao crescimento. A união dessas ações poderá reinserir a indústria brasileira em uma trajetória ascendente, reintegrando-a no contexto competitivo global.