Diplomacia Brasileira Mobiliza-se em Resposta às tarifas de Trump

Nos bastidores da polarização política, o corpo diplomático do Brasil se mobiliza para enfrentar um desafio que pode resultar em prejuízos significativos para a economia nacional. Com a iminente possibilidade de uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, a urgência de uma diplomacia pragmática tornou-se evidente. A necessidade de desarmar essa situação crítica foi discutida por diplomatas da área na quinta-feira (10), em análise publicada pela CNN.

O ex-chanceler Aloysio Nunes opinou sobre a necessidade de uma resposta firme, citando a Lei da Reciprocidade — recentemente aprovada e que permite a aplicação de sanções comerciais. A forma como a carta do presidente norte-americano, Donald Trump, foi divulgada antes mesmo de ser recebida pelo presidente Lula, foi criticada como um ato desleal, exigindo uma resposta à altura.

“Nunca se viu algo dessa gravidade. É inacreditável que uma carta tenha sido publicada antes mesmo de ser recebida. Essa postura é inaceitável, independentemente da perspectiva”, afirmou Nunes.

Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington, ressaltou a importância de agir com calma e serenidade diante da situação. “É fundamental abordarmos essa questão com tranquilidade, pois temos um prazo até 1º de agosto, quando as novas tarifas devem entrar em vigor”, destacou Ricupero, enfatizando o tempo disponível para analisar a situação e formular uma resposta adequada.

A Busca por Protagonismo Diplomático

De acordo com Rubens Barbosa, outro ex-embaixador em Washington, o Itamaraty enfrenta o desafio de recuperar seu papel central em um ambiente que ele descreve como “contaminado por ideologia”. “O Itamaraty tem encontrado dificuldades para articular posições técnicas que são tradicionais na política externa brasileira. Existe uma dualidade entre as declarações do presidente e as posturas profissionais da diplomacia”, acrescentou Barbosa à CNN.

Para ele, a interrupção dos diálogos com a administração Trump, motivada por questões partidárias, foi um erro estratégico. Além disso, a devolução da carta de Trump foi vista como um equívoco que complicou ainda mais as relações.

“A negociação deve ser conduzida pelo Itamaraty, e não pela Casa Civil”, afirmou, ressaltando a necessidade de um domínio preciso na complexa arena diplomática dos EUA.

Reações do Setor Produtivo e Estratégias Diplomáticas

A urgência de uma abordagem diplomática menos ideológica também é compartilhada por representantes do setor produtivo. Entidades industriais e comerciais de várias partes do Brasil expressaram preocupações em relação ao “tarifaço”, clamando por mais diplomacia e menos ideologização nas tratativas comerciais.

A Centrorochas (Associação Brasileira de Rochas Naturais) manifestou sua inquietação em relação à desvantagem competitiva que o Brasil enfrentaria em comparação com fornecedores como Itália, Turquia, Índia e China, que não estão sujeitos a tarifas tão altas.

Além disso, a Frente Parlamentar da Agropecuária reiterou a necessidade de fortalecer as relações bilaterais, enfatizando que “a diplomacia é o caminho mais estratégico para retomar as negociações”. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificou a ação de Trump como “indecente”, mas frisou a mobilização do governo na busca por novos mercados no Oriente Médio, Sul da Ásia e Sul Global. Essa diversificação, embora essencial a longo prazo, não minimiza a urgência de uma ação diplomática imediata para evitar perdas financeiras bilionárias.

A diplomacia brasileira tem defendido uma abordagem cautelosa nas negociações com os EUA, uma postura considerada crucial por assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já que a nova tarifa só entraria em vigor em 1º de agosto. Esse intervalo é visto como uma oportunidade para avaliar a situação com calma e articular uma resposta eficaz.

Lula tem reiterado sua disposição de exigir reciprocidade nas negociações, afirmando que “se ele vai cobrar 50 de nós, nós vamos cobrar 50 dele”. Além disso, o governo brasileiro está considerando a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), uma medida que, segundo Celso Amorim, ex-chanceler e assessor de Lula, deve ser ponderada não apenas pelo seu mérito legal, mas também pelo seu valor político e simbólico.

No Palácio do Planalto e no Itamaraty, as conversas são intensas. A convocação da embaixadora Maria Luiza Viotti, em Washington, para consultas formais surge como uma das opções sendo consideradas. Embora não haja um consenso imediato, essa ação poderia ser um forte sinal diplomático de descontentamento, demonstrando a seriedade com que o Brasil aborda a ameaça das tarifas.

Apesar das críticas à retórica da política externa do governo Lula em relação aos EUA, a necessidade de um pragmatismo neste momento é inegável. O Itamaraty, com sua tradição de competência, está determinado a desenvolver uma estratégia que una diálogo, mobilização de aliados — tanto no Brasil quanto nos EUA — e possíveis contramedidas legais, buscando minimizar os impactos bilionários que as tarifas de Trump poderiam trazer à economia brasileira.

A capacidade do Itamaraty em separar questões técnicas da agitação política será determinante para a resolução dessa crise.

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