Análise do Cenário Comercial Internacional
Integrantes da alta cúpula do governo Lula têm uma avaliação peculiar sobre a recente ameaça de Donald Trump de impor uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto. Para eles, essa ação pode não passar de um blefe do presidente dos Estados Unidos, visando reverter posicionamentos no cenário político interno e internacional.
De acordo com fontes próximas ao Palácio do Planalto, o anúncio de Trump seria uma ferramenta para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a rever sua postura no julgamento de ações relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, instigar Lula a repensar a posição do Brasil em questões delicadas, como o conflito no Oriente Médio e a proposta de uma moeda alternativa ao dólar nas relações comerciais entre os países do Brics.
Ministros ouvidos pela nossa coluna acreditam que a execução dessas taxas é improvável, ao menos na forma como foi divulgada. “Já temos um histórico disso”, comentou um auxiliar de Lula, referindo-se a um episódio anterior. Ele lembrou como, em abril, Trump havia anunciado tarifas de 145% sobre produtos chineses, apenas para reduzir rapidamente esse número para 55% em dias, sendo que 25% dessas eram decorrentes de impostos implementados durante seu primeiro mandato. “Ele costuma fazer esses anúncios para avaliar as reações do público e dos mercados”, acrescentou.
Na discussão em torno das tarifas, a China se destacou, especialmente em relação aos minérios raros, onde possui a maior reserva mundial, seguida de perto pelo Brasil. A resposta rápida dos chineses à ameaça de taxação foi a proibição da exportação desses minérios para os Estados Unidos, incluindo o neodímio, que é crucial para a indústria tecnológica. Essa decisão gerou uma onda de apreensão no setor industrial norte-americano, demonstrando o impacto direto das relações comerciais na economia.
Reação Brasileira à Ameaça de tarifas
Na quarta-feira, 9 de julho, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, expressou a posição brasileira sobre a questão das tarifas. Em suas declarações, Farias apontou que, contrariamente ao que supõe Trump, o Brasil é um dos poucos países com os quais os Estados Unidos operam com superávit comercial. “Quem está aconselhando o sr. Trump? Os dados são claros: desde 2009, os EUA têm superávit comercial com o Brasil, totalizando US$ 88,6 bilhões a mais em importações do que em exportações”, afirmou o parlamentar.
Os números revelam que a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos está em déficit desde 2009, o que significa que, ao longo dos últimos 16 anos, o país tem adquirido, em volume, muito mais do que tem vendido. Essa assimetria é confirmada pela série histórica de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que evidencia a predominância da economia norte-americana nas relações comerciais entre os dois países. “É importante que você se informe melhor, Mr. Trump”, provocou Farias.
Legislação Brasileira e Respostas a tarifas Hostis
A resposta do governo Lula à ameaça de Trump também está amparada pela legislação brasileira, que permite que o país adote medidas em resposta a tarifas hostis ou barreiras comerciais impostas por outras nações. Essa legislação, conhecida como Lei da Reciprocidade, possibilita a aplicação de tarifas adicionais, a suspensão de concessões comerciais e até mesmo o descumprimento de obrigações relacionadas à propriedade intelectual. Com isso, o Brasil se prepara para reagir de forma sólida e estratégica frente a possíveis ações unilaterais dos Estados Unidos.