Abiec em Foco: Desafios e Oportunidades
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que congrega 47 grupos empresariais e responde por quase todas as exportações de carne bovina do Brasil, está atenta às recentes movimentações entre o governo nacional e os Estados Unidos. Isso se tornou ainda mais evidente após a imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos agropecuários, incluindo carne.
Roberto Perosa, presidente da Abiec, revelou que todas as unidades de processamento afiliadas à associação suspenderam temporariamente a produção de carne destinada ao mercado americano, que é o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil. “Neste momento, nenhuma planta está operando com foco nos Estados Unidos”, destacou ele em uma entrevista exclusiva ao repórter Ricardo Araújo, em Brasília.
Até agora, em 2024, o Brasil exportou aproximadamente 200 mil toneladas de carne bovina para os EUA, com expectativas de dobrar esse número até o final do ano. Entretanto, a nova tarifa de 50%, que se soma aos 36,4% já existentes, pode inviabilizar essas exportações.
A maior parte da carne enviada aos Estados Unidos é composta por cortes do dianteiro do boi, frequentemente utilizados na produção de hambúrgueres. Perosa enfatizou que os EUA estão enfrentando um dos menores ciclos pecuários das últimas oito décadas, o que os leva a necessitar da importação de proteína para satisfazer a demanda interna.
Atualmente, cerca de 30 mil toneladas de carne brasileira estão em trânsito para os EUA, em diversos portos e navios. A Abiec está diretamente envolvida nas negociações com o governo, defendendo uma abordagem diplomática que evite danos aos produtores e à indústria nacional.
Redirecionando a Produção e Novas Oportunidades na Ásia
Enquanto busca soluções para o delicado cenário das exportações para os EUA, o setor está se adaptando, redirecionando sua produção para outros mercados. No entanto, Perosa alertou que nenhum outro país apresenta a mesma demanda e rentabilidade que os Estados Unidos. “Teremos que redistribuir esses volumes entre os mais de 150 destinos possíveis para a carne brasileira”, afirmou o presidente da Abiec.
Além disso, a Abiec destacou que está em negociação com países asiáticos, como Vietnã e Japão. O Japão, que consome cerca de 700 mil toneladas de carne anualmente, surge como uma nova chance para os cortes dianteiros brasileiros, que atendem à demanda da indústria local e podem substituir a carne que seria enviada aos EUA.
Por enquanto, os frigoríficos brasileiros continuam suas operações normais, ajustando a produção para outros mercados. A Abiec também aconselha os pecuaristas a manterem cautela e a buscarem uma convivência harmoniosa entre todos os elos da cadeia produtiva.
O Cenário Atual da Produção de Carne no Brasil
Atualmente, o Brasil destina aproximadamente 70% de sua produção de carne ao mercado interno, enquanto o restante é exportado. As exportações são compostas principalmente por cortes dianteiros e miúdos, com grande parte desses volumes sendo direcionados para a Ásia. A expectativa da Abiec é que as negociações com os EUA possam ser resolvidas de maneira eficaz, sem retaliações que possam prejudicar o fluxo de exportação e desestabilizar os preços internos da carne.