Como Escolher o sêmen na pecuária

A inseminação artificial se firmou como uma ferramenta vital para a evolução da genética bovina. Atualmente, os pecuaristas têm à disposição três opções de sêmen: convencional, sexado e genômico. Mas como decidir qual deles é o mais adequado para cada sistema produtivo? A resposta envolve um planejamento cuidadoso, análise de dados e um alinhamento estratégico com os objetivos da propriedade.

Entender as especificidades de cada tipo de material genético é fundamental, assim como o impacto estratégico que cada tecnologia traz. Especialistas entrevistados pelo Canal do Criador destacam que a escolha acertada pode não apenas acelerar o ganho genético, mas também melhorar a eficiência reprodutiva e influenciar diretamente a rentabilidade da atividade.

Genômica: Avanços que Transformam o Cenário

Raul Lara Resende, analista técnico da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), ressalta que a genômica revolucionou a forma como se avalia o mérito genético dos touros. Agora, é possível prever o valor genético de um touro ainda jovem, utilizando informações de DNA e parentesco. Isso significa que decisões que antes levavam anos para serem feitas podem ser tomadas muito mais rapidamente.

“Hoje já conseguimos identificar, em um bezerro ou até mesmo em um embrião, um potencial genético comparável ao de um touro adulto de nove anos do passado. Essa evolução trouxe velocidade, diminuição de custos e uma precisão que superam, e muito, os métodos tradicionais de melhoramento”, explica Resende.

Com essa tecnologia, touros genômicos se tornam uma escolha inteligente para acelerar ciclos de seleção, permitindo que os produtores utilizem reprodutores de alta qualidade ainda antes de eles terem filhos avaliados.

Acuracidade e Riscos do sêmen Genômico

Apesar dos benefícios, a utilização de sêmen genômico requer atenção especial à acuracidade das informações. “A confiabilidade das avaliações genômicas depende da qualidade dos dados utilizados e da densidade dos testes. Raças como Nelore, Holandês e Angus já contam com bancos de dados robustos e validações confiáveis”, esclarece Resende.

O tamanho do rebanho também é um fator a ser considerado. “Em rebanhos grandes, mesmo com variações nos resultados, as chances de nascerem indivíduos de qualidade superior justificam o uso intensivo do sêmen genômico. Porém, em rebanhos menores, é recomendado um uso mais cauteloso, equilibrando essa ferramenta com touros já comprovados”, recomenda o especialista.

Além disso, a genômica pode ser aplicada em fêmeas, permitindo um direcionamento mais preciso nos acasalamentos e uma seleção de matrizes com base no mérito genético adequado.

Convencional ou Sexado: Onde Cada Um se Encaixa?

Gustavo Sousa Gonçalves, gerente de Leite Europeu da Alta Brasil, enfatiza que o sêmen convencional ainda é um dos preferidos, especialmente por sua resistência e melhores taxas de prenhez. “O sêmen convencional é mais resiliente e apresenta boa taxa de prenhez, mesmo em condições adversas de manejo e ambiente”, aponta.

Em contrapartida, o sêmen sexado, que possibilita escolher o sexo da cria, é mais indicado para rebanhos leiteiros bem manejados, onde a reposição de fêmeas de alto valor genético é priorizada. “No setor de leite, a capacidade de aumentar o número de nascimentos de fêmeas é extremamente vantajosa, mas é necessário que o rebanho mostre índices reprodutivos consistentes para que essa tecnologia possa ser plenamente aproveitada”, complementa Gonçalves.

A pureza do sêmen sexado atualmente está em torno de 90%, mas requer cuidados rigorosos durante o descongelamento e a aplicação. Qualquer falha nesse processo pode comprometer os resultados esperados.

Planejamento e Estratégia: Chaves para o Sucesso

Combinar diferentes tipos de sêmen pode ser uma abordagem eficaz para a genética bovina, desde que exista um planejamento reprodutivo adequado. “Por exemplo, podemos utilizar sêmen sexado nas novilhas por até três tentativas. Se não houver sucesso, passamos ao convencional. Isso ajuda a reduzir custos e mantém a eficiência do sistema”, aconselha Gonçalves.

Segundo o especialista, um dos maiores erros que um produtor pode cometer é fazer escolhas sem se basear em dados concretos da própria fazenda. “A pecuária moderna não tem espaço para decisões sem embasamento ou ações apressadas. A tecnologia está disponível, mas seu sucesso depende da gestão, da capacitação da equipe e de um suporte técnico competente”, conclui.

Aplicação: O Diferencial Decisivo

Seja o sêmen convencional, sexado ou genômico, todos têm potencial para contribuir para o avanço da genética no rebanho. A diferença está na forma como são utilizados. O sêmen convencional oferece robustez, o sexado garante uma reposição mais direcionada, e o genômico acelera o progresso genético. A escolha ideal dependerá do sistema de produção, dos recursos disponíveis e, principalmente, do planejamento estratégico.

Antes de decidir qual tipo de sêmen utilizar na genética bovina, é fundamental buscar suporte técnico e alinhar essa decisão com os objetivos produtivos da propriedade. Quando utilizado corretamente, o emprego estratégico dessas tecnologias pode reverter os resultados da fazenda em poucas gerações.

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