Operação Expertise e os Saques Milionários

A Polícia Federal (PF) investiga a movimentação de aproximadamente R$ 14 milhões em uma agência bancária localizada dentro da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). O objetivo dos saques seria repassar esses valores a servidores públicos corruptos associados ao poder legislativo do estado. Essa informação foi revelada em um documento da operação Expertise, iniciada no início de setembro, que apura a atuação de uma organização criminosa dedicada a crimes contra a administração pública e à lavagem de dinheiro, através da contratação fraudulenta de empresas por diferentes órgãos públicos estaduais e municipais do Pará.

A investigação foca em contratos estabelecidos com a Alepa, o Detran e a Polícia Científica do Pará, que têm ligações com as empresas suspeitas. “Conforme se extrai, os corruptores provisionam o saque de valores em agência de instituição financeira localizada nas acomodações da sede da Assembleia Legislativa Estadual. Após o saque, os valores são entregues a servidores públicos corruptos vinculados à Casa Legislativa, nas próprias dependências”, cita um trecho do documento.

De acordo com a PF, os saques realizados dentro da Alepa indicam que “a maior fatia do bolo da propina” proveniente do grupo de empresas investigadas era destinada a servidores da Assembleia. “Tal suspeita é reforçada pela informação registrada no IPJ 103/2025, que revela que, durante os três meses de funcionamento da agência Sicoob nas dependências da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, foram sacados (e possivelmente pagos como propina) a impressionante quantia de R$ 14.000.000,00 (quatorze milhões de reais)”, acrescenta o relatório.

Facilidade para a Prática de Crimes

A PF acredita que os saques realizados nas dependências da Alepa facilitaram as atividades criminosas, além de minimizar riscos em relação ao transporte do dinheiro e reduzir a suspeita sobre a movimentação. “Os membros da organização criminosa se utilizam da proteção das dependências do Poder Legislativo Estadual para a prática de seus atos ilícitos”, conclui a corporação.

Além disso, a PF investiga saques que totalizam R$ 101 milhões em espécie, realizados por indivíduos ligados a empresas sob suspeita. Segundo um relatório do caso, com base em dados do Conselho de Controle de Atividade Financeiras (Coaf), a empresa Líder Engenharia, contratada por vários órgãos públicos do Pará, movimentou cerca de R$ 198,3 milhões entre 2018 e 2025. Desse total, R$ 101,7 milhões foram retirados em espécie, principalmente por dois dos investigados: Jacélio Faria da Igreja, sócio da Líder, e Alberto Furtado Pinheiro, sócio da Brasil Brasil e da Fortes Comércio. Ambos tiveram a prisão preventiva autorizada pela Justiça.

O Esquema de corrupção

O esquema criminoso, segundo as investigações, começava com a celebração de contratos fraudulentos entre as empresas investigadas e órgãos do governo do Pará, como o Detran, a Polícia Científica e a Alepa. A decisão que autorizou as operações da PF afirma que processos licitatórios eram manipulados por funcionários em posições-chave que participavam do esquema, com indícios de direcionamento para certas empresas.

Após os contratos serem firmados, eram realizados pagamentos vultosos às empresas mesmo sem a execução do objeto do contrato. A última fase do esquema consistia em saques de valores em espécie de contas associadas às empresas investigadas ou de pessoas físicas e jurídicas conectadas a elas, com os montantes sendo entregues diretamente a autoridades corruptas vinculadas aos órgãos públicos. “Há também transferências diretas entre contas de empresas suspeitas e autoridades públicas”, detalha o juiz responsável pela decisão.

Posicionamento da Defesa e das Instituições

A coluna buscou comentários do governo do Pará, do Detran e da Polícia Científica, que afirmaram não ter conhecimento sobre as investigações. A defesa de Jacélio Faria afirmou que teve acesso recente aos detalhes da investigação e negou qualquer envolvimento em atos de corrupção. “O Sr. Jacélio não cometeu nenhuma irregularidade e não precisou de favorecimentos para obter contratos da Líder fora dos ditames legais”, declarou.

Sobre as movimentações financeiras levantadas pelo Coaf, o advogado afirmou que o relatório pode apontar movimentações atípicas, mas “essa atipicidade não implica automaticamente em ilegalidade”. Ele enfatizou que a defesa está disposta a prestar esclarecimentos, após examinar os autos, para esclarecer as questões controversas da investigação. A Alepa, as empresas citadas e a defesa de Alberto Furtado não se manifestaram até o momento.

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