Contexto Atual do Reconhecimento da Palestina
No início de setembro de 2025, durante um debate promovido pelo think tank Chatham House em Londres, o diplomata palestino Husam Zomlot destacou um momento crucial para a causa Palestina. A Bélgica, seguindo os passos de países como Reino Unido e França, anunciou sua intenção de reconhecer o Estado palestino durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Zomlot comentou que esse poderia ser um dos últimos esforços genuínos para a implementação da solução de dois Estados, uma ideia que ele considera fundamental para a paz na região.
Semanas depois, a promessa se concretizou. O Reino Unido, tradicional aliado de Israel, formalizou o reconhecimento do Estado da Palestina, seguido por Canadá, Austrália e Portugal. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, enfatizou que, diante da crescente violência no Oriente Médio, é imperativo preservar a chance de paz e a criação de um Estado palestino viável ao lado de um Israel seguro. Starmer lamentou que, no momento atual, nenhum dos dois está assegurado.
Atualmente, a Palestina é reconhecida por aproximadamente 150 dos 193 Estados-membros da ONU, incluindo o Brasil. Contudo, falta uma definição clara de sua capital, fronteiras e força militar, resultando em reconhecimentos que, em grande parte, são simbólicos.
O Marco Político e as Implicações
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A adesão do Reino Unido e de outras nações à causa Palestina é vista como um marco político significativo. “A Palestina nunca esteve tão bem posicionada no cenário internacional como agora”, observa Xavier Abu Eid, ex-funcionário da administração Palestina, destacando a crescente mobilização global em torno do tema.
A decisão, porém, foi condenada pelo governo israelense e por familiares de reféns em Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou que a formação de um Estado palestino é inviável. Isso levanta questões complexas sobre a natureza da Palestina: o que define esse Estado? Existem os critérios necessários para o reconhecimento, conforme estabelecido pela Convenção de Montevidéu de 1933?
Os Desafios da Liderança Palestiniana
A Palestina pode reivindicar dois dos quatro critérios da Convenção: uma população permanente e a capacidade de manter relações internacionais. No entanto, o critério do “território definido” permanece um desafio, uma vez que as fronteiras palestinas ainda estão indefinidas e carecem de um processo de paz ativo.
Os palestinos sonham com um Estado que abranja Jerusalém Oriental, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza — regiões ocupadas por Israel desde 1967. No entanto, a geografia complica essa aspiração, com a Cisjordânia e Gaza separadas por território israelense e um controle militar que limita a Autoridade Palestina a cerca de 40% da área da Cisjordânia.
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A situação em Gaza é ainda mais crítica, com o território devastado após o conflito iniciado em outubro de 2023. A Autoridade Palestina, presidida por Mahmoud Abbas, enfrenta descrédito e é vista como impotente, incapaz de oferecer uma liderança eficaz diante do sofrimento da população.
A Fragmentação e a Urgência de Nova Liderança
A divisão política entre a Autoridade Palestina e o Hamas, que controla Gaza, agrava a crise. Desde 2007, estas duas entidades rivais operam de forma independente, levando a uma fragmentação que prejudica a coesão nacional. Muitos palestinos se mostram céticos em relação à liderança atual, clamando por uma nova direção.
Diana Buttu, advogada Palestina, critica a falta de eleições desde 2006, afirmando que isso é “incompreensível” e sublinha a necessidade urgente de novas lideranças no cenário palestino. Com a possibilidade de um novo reconhecimento internacional, as questões sobre quem governará a Palestina tornam-se cada vez mais prementes.
Embora figuras como Marwan Barghouti, preso por Israel, mantenham popularidade e apoio, a falta de um governo funcional e a fragmentação política dificultam a formação de um Estado coeso. Barghouti, mesmo encarcerado, é considerado uma possibilidade para a liderança futura, com 50% da população Palestina o apoiando como presidente em recentes pesquisas.
Pressões Internacionais e o Futuro da Liderança Palestina
A situação se complica ainda mais com a resistência de Netanyahu em considerar qualquer papel da Autoridade Palestina no futuro político de Gaza. Israel, sob uma forte oposição ao reconhecimento palestino, está determinado a manter suas políticas de assentamento e controle territorial.
A proposta de um governo palestino funcional permanece distante. A recente Declaração de Nova York, que pede ao Hamas para encerrar sua liderança em Gaza, reflete uma necessidade de unidade, mas os obstáculos são imensos. O reconhecimento internacional, por si só, pode não ser suficiente para garantir uma solução duradoura.
A urgência para os palestinos é clara — não apenas o establishment de um Estado, mas a necessidade de um novo modelo de liderança e governança que possa realmente representar e proteger os interesses do povo palestino. Nesse sentido, a pressão sobre a comunidade internacional para agir e evitar mais mortes torna-se ainda mais relevante.