A Ascensão Criminosa de Fernando Gonçalves dos Santos
A trajetória de Fernando Gonçalves dos Santos, conhecido como Azul ou Colorido, está profundamente entrelaçada à história do Primeiro Comando da Capital (PCC). Recentemente, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, o identificou como um dos principais alvos da investigação em torno do assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, brutalmente fuzilado na Praia Grande, litoral paulista, no início da semana.
Com um histórico de 28 anos de condenações por crimes como tráfico de drogas, receptação e associação criminosa, Azul foi solto do sistema prisional federal do Rio Grande do Norte no início de agosto. Até o momento, sua defesa não foi localizada e o espaço permanece aberto para manifestações.
O criminoso demonstrou uma habilidade notável de articulação e violência, características que facilitaram a expansão da facção além das fronteiras de São Paulo. Iniciando sua carreira criminosa com pequenos delitos na região litorânea, ele rapidamente subiu na hierarquia da maior organização criminosa do país, conforme revelam relatórios judiciais obtidos pelo Metrópoles.
Desde os anos 1990, Azul já constava nos registros policiais por suas atividades ilícitas, principalmente por roubos e tráfico de drogas. Contudo, foi na Baixada Santista que ele consolidou seu poder, controlando pontos estratégicos do comércio de entorpecentes e impondo respeito por meio de uma combinação de crueldade e disciplina. A sua influência crescia em sintonia com o fortalecimento do PCC.
O Salto Após a Prisão em 2001
Em 2001, foi preso no Rio Grande do Sul, junto a outros membros da facção, portando armas de grosso calibre. Essa prisão, em vez de marcar um retrocesso, acabou se tornando um passo importante na sua ascensão, reforçando sua legitimidade interna. Azul se tornou um elo vital entre diferentes áreas de operação e se conectou diretamente às lideranças que já atuavam sob o comando de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, considerado o líder máximo do PCC.
A notoriedade de Azul cresceu em 2011, quando foi identificado como o mandante do assassinato do policial militar Fábio Lopes Apolinário, em Santos. Esse crime, de grande impacto simbólico, evidenciou sua capacidade de desafiar as autoridades. Desde então, ele passou a ser monitorado intensamente por órgãos de inteligência.
Nos bastidores do PCC, Azul conquistou um cargo raro: o de Sintonia Final, um núcleo estratégico responsável pelas principais decisões da facção. Relatórios oficiais indicam que sua nomeação foi aprovada por Marcola em 2018, consolidando-o como uma figura de confiança dentro da cúpula do PCC. Essa posição permitiu que ele articulasse ações em diferentes estados e até mesmo em países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, essenciais para o tráfico de drogas e armamentos.
Impacto das Operações e Conexões com Massacres
A escalada de Azul resultou em operações de grande porte, como a realizada pelo Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, em novembro de 2020. Denominada Operação Colorido, essa ação reforçou o envolvimento direto do criminoso na coordenação de células do PCC na Baixada Santista.
Seu alcance não se restringiu a São Paulo. No Rio Grande do Norte, relatórios de inteligência o associaram a massacres em presídios, especialmente um brutal massacre em 2017, quando 26 presos foram decapitados em uma penitenciária potiguar. Apesar da distância física, Azul continuava a ser um articulador das estratégias de expansão do PCC para o Nordeste, numa clara disputa contra rivais como o Sindicato do Crime (SDC).
Sucessivas Transferências e Libertação
A periculosidade de Azul levou o Judiciário a autorizar sucessivas transferências para o Sistema Penitenciário Federal, passando por unidades como a de Porto Velho. O objetivo dessas transferências era isolá-lo e limitar sua comunicação com a facção.
No entanto, relatórios indicaram que, mesmo em condições de segurança máxima, ele continuava a emitir ordens, muitas vezes utilizando advogados como intermediários. As condenações que totalizavam mais de 28 anos de prisão não impediram que ele utilizasse brechas jurídicas, resultando em períodos de liberdade, cuja simples presença em São Paulo ou no Nordeste gerava apreensão entre as forças policiais e o Judiciário.
Recentemente, sua soltura despertou preocupação entre as autoridades, que o veem não apenas como um ex-detento, mas como um símbolo do PCC, capaz de reintegrar células e intensificar a influência da facção nos estados onde já deixou suas marcas, frequentemente manchadas de sangue.