O Flagrante e a Ascensão de Irmão Molejo

O incidente ocorreu em uma manhã de março de 2018, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Policiais civis, munidos de um mandado de busca, invadiram a modesta residência de Nailton Vasconcelos Martins, conhecido como Irmão Molejo. Durante a busca, Molejo prontamente confessou a posse de um revólver calibre 38 e sete bananas de dinamite escondidas sob seu travesseiro. Junto ao explosivo, estavam cordões detonadores — materiais frequentemente associados a ataques a caixas eletrônicos orquestrados pelo crime organizado.

Um ano depois, em 21 de março, um mandado de soltura permitiu que Molejo deixasse a prisão. Contudo, essa liberdade o levou a organizar uma reunião onde foi decidido o assassinato de Ruy Ferraz Fontes, então delegado-geral, em retaliação ao seu trabalho policial. Ferraz, já aposentado, foi morto a tiros na Praia Grande, onde atuava como secretário municipal da Administração.

Condenação e Transferência

Desde julho de 2019, Irmão Molejo está encarcerado após uma sentença condenatória, sendo transferido para a Penitenciária II de Presidente Venceslau, um dos principais centros penitenciários do Primeiro Comando da Capital (PCC). O criminoso é considerado um dos líderes do Bonde dos 14 — um conselho que orienta as ações do crime na região leste de São Paulo.

Um Passado Criminal Complicado

Originário de Santa Isabel, Molejo possui um longo histórico criminal, incluindo antecedentes por roubo qualificado, sendo amplamente conhecido pelas autoridades da área do Alto Tietê. Seu nome frequentemente aparece em investigações relacionadas ao tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e diversos crimes patrimoniais que sustentam a maior facção criminosa do Brasil.

Durante a operação que resultou na apreensão das dinamites, a polícia também encontrou anotações contábeis relacionadas ao tráfico e itens de origem ilícita, reforçando os indícios de sua conexão com o PCC. Documentos obtidos pelo Metrópoles revelam que, em uma conversa informal, Molejo até admitiu pertencer ao “comando”, apesar de ter negado essa associação em juízo. Os materiais apreendidos, como notebooks e celulares, corroboram sua ligação com a facção.

Operação em Equipe

A investigação demonstrou que Molejo não atuava isoladamente. No dia da apreensão, um adolescente foi encontrado em sua casa, e havia menções a um cúmplice que o ajudava em assaltos e tráfico de drogas. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) mencionou a possibilidade de uma conexão estrutural com outros criminosos ativos na região de Itaquaquecetuba, Suzano e Guarulhos, áreas sob influência direta do PCC.

Reputação Judicial Desfavorável

A trajetória de Irmão Molejo é marcada por reincidências. Antes da apreensão dos explosivos, ele já havia enfrentado processos e condenações por roubo, acumulando uma péssima reputação judicial. A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) destacou seus “péssimos antecedentes”, o que levou à manutenção de sua prisão preventiva, considerando o risco de que sua liberdade pudesse resultar em novos ataques e movimentações criminosas.

O Assassinato do Ex-Delegado

Os assassinos de Ruy Ferraz Fontes demonstraram um profundo conhecimento da rotina da vítima. Um vídeo de monitoramento na Rua Arnaldo Vitulli mostra a chegada dos criminosos em uma Hilux preta, estacionando às 18h02, com as luzes apagadas. O veículo permaneceu inerte até as 18h16, quando o Fiat Argo de Ferraz apareceu na via.

Assim que o carro do ex-delegado se aproximou, os faróis da Hilux foram acesos, e os ocupantes começaram a disparar. Um ângulo diferente da câmera revela que o vidro do lado do motorista foi estilhaçado, enquanto Ferraz buscava uma curva na Rua 1º de Janeiro. Uma perseguição de cerca de 2,5 quilômetros se seguiu, culminando na Avenida Doutor Roberto de Almeida Vinhas, onde o Fiat Argo colidiu com dois ônibus e capotou.

Crime Frio e Metódico

Com o carro tombado, os atiradores desembarcaram da Hilux e executaram Ruy Ferraz diante de várias testemunhas. Ele não teve a chance de usar sua pistola Glock 9 milímetros, que permaneceu guardada em uma bolsa. Após o crime, os assassinos fugiram na Hilux, que foi encontrada em chamas a quase dois quilômetros do local do assassinato. Relatos indicam que uma arma foi deixada para trás.

A Polícia Civil descobriu que, após abandonarem a Hilux, os criminosos utilizaram um Jeep Renegade, que havia sido furtado de uma médica em São Paulo, para continuar a fuga. Este veículo foi localizado com o motor ainda ligado, a 800 metros da Hilux incendiada. Documentos policiais revelam que, após deixarem o Renegade, os criminosos seguiram a pé, utilizando uma passarela próxima. Durante a operação, foram encontrados um carregador de fuzil e várias cápsulas deflagradas.

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