Controvérsia sobre a transferência dos detentos

A recente transferência de presos famosos da Penitenciária 2 de Tremembé para Potim, município do Vale do Paraíba com cerca de 22 mil habitantes, traz insegurança e insatisfação para os moradores locais. O prefeito Emerson Tanaka (MDB) é um dos críticos da situação, ressaltando que Potim busca se consolidar como um destino turístico, especialmente por ser uma parada importante para os romeiros que visitam o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Em suas palavras: “Somos a última cidade no caminho dos peregrinos, por isso estamos conseguindo nossa inclusão como município de interesse turístico. Ter o presídio dos famosos pode ser pejorativo”.

A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo de transferir os atuais ocupantes da penitenciária tem como objetivo mudar o perfil dos detentos da unidade, que agora incluirá figuras como o ex-jogador Robinho, o empresário Thiago Brennand, o ex-médico Roger Abdelmassih e o hacker Walter Delgatti Neto.

Desafios locais e infraestrutura

O prefeito Tanaka também apontou as questões estruturais que a cidade enfrenta. Há duas décadas, Potim já abriga duas penitenciárias, acumulando cerca de 4 mil detentos. “A cidade sofre com a carência de infraestrutura. Todo fim de semana, cerca de mil visitantes vêm ver seus parentes presos e ficam ao relento. Essa situação gera pressão sobre os serviços públicos e a segurança, que já é precária. O governo do Estado poderia ser mais atencioso com as cidades que abrigam presídios”, destacou.

A estudante Sofia Cardoso, que trabalha com seu pai em uma pousada local, mostrou ceticismo em relação aos impactos que a chegada dos presos famosos poderá ter no turismo: “Nosso turista geralmente está mais ligado ao santuário de Aparecida e à história do Bom Jesus, padroeiro da cidade. Pessoalmente, acho que esse tipo de fama não é benéfico para nós”.

A opinião dos comerciantes

O comerciante Luiz Tavares, que possui um restaurante, acredita que a localização do presídio, a cerca de 15 km da área urbana, diminui o impacto sobre os negócios locais. “Embora a presença do presídio possa tornar a cidade mais conhecida, é de uma forma negativa. As visitas dos familiares de detentos não trazem um fluxo significativo para o comércio”, opina.

Potim, localizada nas proximidades de Pindamonhangaba, Aparecida e Guaratinguetá, é predominantemente uma cidade-dormitório, sem indústrias. O presidente da Câmara, Luís Roberto Thomaz (PSD), recorda que, quando as penitenciárias foram inicialmente instaladas, uma mobilização de 5 mil pessoas assinou um abaixo-assinado contra essa decisão. “Acredito que termos um presídio de famosos gera uma imagem negativa para Potim, e precisamos trabalhar para buscar melhorias que possam contrabalançar isso”, afirma.

As expectativas da comunidade

O prefeito Tanaka mencionou que já discutiu a questão com a população e que muitos desejam que Potim seja reconhecida mais por sua conexão espiritual e histórica, que pela manutenção de um presídio. “A cidade é a última parada do Caminho da Fé, onde transitam anualmente cerca de 100 mil peregrinos rumo a Aparecida. Agora, estamos sendo alvo das manchetes em todo o Brasil por causa do presídio dos famosos, o que é pejorativo. Contudo, essa exposição pode nos ajudar a pressionar o governo por melhorias na infraestrutura para acolher as famílias dos detentos”.

A corretora de imóveis Isabel Marte, residente nas proximidades do complexo penitenciário, comentou que muitos detentos estão sendo transferidos para unidades muito distantes. “Alguns foram parar na divisa com o Mato Grosso do Sul”, revelou ela, acrescentando que no último fim de semana houve uma movimentação intensa de veículos da administração penitenciária, o que gerou rumores sobre as novas transferências.

A história da penitenciária dos famosos

A origem da penitenciária dos famosos de Tremembé remonta à tragédia do Carandiru, em 1992, quando uma rebelião resultou na morte de 111 detentos durante uma intervenção da Polícia Militar. Após esse evento, o governo decidiu transformar a P2 de Tremembé, construída nos anos 1950, em uma instalação destinada a detentos de casos de grande notoriedade, que correm risco em unidades convencionais. Embora mantenha um regime semelhante ao de outras prisões, não se permite a entrada de presos associados a facções criminosas, e há maiores facilidades para o trabalho dos detentos, mesmo em regime fechado. Ao longo dos anos, personalidades como Daniel e Christian Cravinhos (do caso Richthofen), o ex-goleiro Edinho (filho de Pelé), e Marcos Valério (Mensalão) estiveram entre os que passaram por essa unidade.

Por fim, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que, por questões de segurança, não se manifesta sobre as transferências de presos.

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