O Crescente Poder das milícias em São Paulo

A recente prisão de um policial militar em Limeira, interior de São Paulo, reacende as investigações da Polícia Civil sobre uma possível milícia composta por PMs e guardas municipais (GCMs), operando em associação com o Comando Vermelho (CV), a principal facção criminosa do Rio de Janeiro. Esses laços estão se expandindo rapidamente pelo interior do estado, aproveitando-se do vácuo deixado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em áreas não mais estratégicas para a organização.

De acordo com fontes que monitoram o crescimento do CV em São Paulo, a interação entre agentes de segurança pública e organizações criminosas está se tornando cada vez mais evidente. O cabo José Casimiro de Lima Júnior, de 44 anos, foi identificado como um colaborador próximo de Carlos Alexandre dos Santos, conhecido como Bicho, que se encontra detido desde fevereiro e é considerado o principal articulador de uma milícia que trabalha para o CV na região de Rio Claro.

A investigação revelou que José Casimiro foi flagrado adentrando um condomínio com um carro clonado, propriedade de Bicho, após uma tentativa de assassinato frustrada. A conexão entre ambos foi corroborada por uma foto do PM, divulgada em suas redes sociais.

Ações Policiais e Detenção de Suspeitos

Na manhã do dia 27, os policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), com apoio da Corregedoria da PM, efetuaram a prisão do cabo José Casimiro quando ele chegava para seu turno na 5ª Companhia do 36º Batalhão do Interior. A residência do policial foi alvo de uma operação que resultou na apreensão de celulares, cartões bancários e munições, todos enviados para perícia.

A investigação da Polícia Civil indica que José Casimiro estaria envolvido em crimes violentos, incluindo homicídios, utilizando veículos clonados para facilitar as ações da milícia. A estratégia inclui abandonar os automóveis em locais previamente estipulados ou incendiá-los para eliminar evidências, conforme apurado.

José Casimiro enfrenta múltiplas acusações, incluindo tentativa de homicídio e associação ao tráfico de drogas, e foi encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital, onde permanecerá durante o período de prisão temporária.

Defesa e Reações à Prisão

Na audiência de custódia realizada no dia 28, a defesa de José Casimiro argumentou que a prisão era “ilegal”, citando que ele é réu primário e possui residência fixa. O advogado, Lucas Alvarenga, contestou a validade das evidências, afirmando que a acusação baseia-se apenas na menção de um nome obscuro que aparece esporadicamente nas investigações. Entretanto, seus argumentos não foram aceitos e a prisão foi mantida.

O Papel de Carlos Alexandre e a Estrutura da Milícia

O PM Carlos Alexandre dos Santos, conhecido como Bicho, está sob investigação por liderar um grupo que inclui crimonosos profissionais e GCMs. Parte de sua equipe foi detida em 5 de maio, durante a Operação Hitman, que visava desmantelar sua rede no interior paulista e em outras regiões do país. Além de colaborar com o CV, a milícia de Bicho estava ligada a uma organização criminosa local, o Bando do Magrelo, rival do PCC.

A investigação demonstrou que Bicho não apenas estava envolvido na clonagem de veículos, mas também no tráfico de armas e drogas, além da execução de homicídios encomendados. Ele atuava ativamente no planejamento de ações ofensivas contra rivais, utilizando veículos clonados para evitar identificação.

Interações entre Criminosos e GCMs

Denis Davi de Lima, um GCM, atuava como contato entre a milícia e o sistema de segurança, utilizando sua posição para apagar registros de veículos clonados e fornecer informações críticas ao tráfico. O comandante da GCM em Araras, Daniel Ponessi Alves, também estava sob investigação por facilitar operações criminosas, enquanto outro GCM, Anilton dos Santos, o Tijolo, estaria envolvido em corrupção ativa, recebendo propinas para garantir a operação fluida de atividades ilegais.

Tráfico de Armas e Expansão das Atividades Criminosas

Dentre as várias ações orquestradas por Carlos Alexandre estava a negociação para fornecer armas ao CV. O arsenal, que incluía armas de um GCM, foi adquirido antes mesmo de ser roubado, demonstrando a articulação prévia do crime. O assalto aconteceu em novembro do ano passado e foi realizado por criminosos que invadiram a residência do guarda, comprometendo sua segurança e a de sua família.

As operações do CV se estendem por Limeira e cidades adjacentes, como Araras, Leme e Conchal. A facção busca estabelecer controle sobre a chamada “Rota Caipira”, um importante corredor para o tráfico de armas e cocaína oriundas da Bolívia e Colômbia. A presença de PMs e GCMs nessas operações expõe a fragilidade da segurança pública na região e os riscos associados à corrupção dentro das forças de segurança.

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