Desemprego em Queda Histórica
O Brasil vive um momento marcante em seu mercado de trabalho, com a taxa de desemprego caindo para apenas 5,8% no trimestre encerrado em junho, um nível inédito desde o início da série histórica em 2012. Essa redução acentuada reforça as previsões de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve manter a taxa Selic em 15% ao ano por um período prolongado.
Os dados, que foram divulgados nesta quinta-feira (31/7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam também recordes em outros indicadores. A taxa de participação na força de trabalho subiu para 62,4%, enquanto o nível de ocupação atingiu 58,8%. Outro dado impressionante é o número de pessoas com carteira assinada, que chegou a 39 milhões.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua
Essas informações são parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), um importante estudo do IBGE. A população desempregada, que inclui aqueles que não têm trabalho e estão em busca de uma oportunidade, sofreu uma queda de 17,4% neste trimestre, resultando em 6,3 milhões de brasileiros sem emprego. Comparando com o mesmo período do ano anterior, houve um recuo de 15,4%, o que representa aproximadamente 1,1 milhão a menos de desempregados.
Por outro lado, a população ocupada, composta por pessoas em idade de trabalhar, alcançou um recorde histórico com um crescimento de 1,8% no trimestre e 2,4% no ano. O nível de subutilização, que se refere à porcentagem de pessoas que estão disponíveis para trabalhar, mas não estão efetivamente empregadas, caiu para 14,4%, uma diminuição de 1,5 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, que era de 15,9%. No total, a população subutilizada, que inclui aqueles que não estão trabalhando nem procurando emprego, mas têm potencial para isso, somou 16,5 milhões. Essa cifra representa uma queda tanto trimestral quanto anual.
Expectativas do Mercado
Em conversas com economistas e analistas consultados pela reportagem do Metrópoles, a resiliência demonstrada pelo mercado de trabalho no Brasil sugere que o Copom deve manter a Selic em seu patamar atual de 15% ao ano por um período mais longo. Na véspera, a autoridade monetária já havia anunciado a manutenção da taxa de juros nesse nível.
A Selic é uma ferramenta crucial utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação. Essa taxa é a base para as negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), servindo de referência para as demais taxas na economia. Quando o Copom decide elevar os juros, o objetivo é conter uma demanda aquecida, refletindo o impacto nos preços. Juros mais altos tendem a encarecer o crédito e incentivar a poupança, o que pode desacelerar a atividade econômica.
Por outro lado, a redução da Selic geralmente torna o crédito mais acessível, estimulando a produção e o consumo, além de aliviar a pressão sobre a inflação.
Análise dos Economistas
De acordo com Igor Cadilhac, economista do PicPay, o cenário atual é animador. Ele observa que, embora a taxa de participação permaneça estável em 62,4%, o nível de ocupação cresceu de 58,6% para 58,8%, igualando o recorde histórico. Isso fez com que o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado alcançasse 39,8 milhões, contribuindo para a estabilidade da informalidade, que se manteve em 37,8%. Cadilhac enfatiza que os rendimentos também estão em alta, com o rendimento médio real habitual atingindo R$ 3.477, o que, combinado com a baixa taxa de desemprego, elevou a massa salarial para R$ 351,2 bilhões.
O economista Maykon Douglas observa que entre novembro do ano passado e março deste ano, a taxa de desemprego se estabilizou em 6,4%, mas no segundo trimestre apresentou uma queda média de 0,2 pontos percentuais por mês, renovando mínimas históricas. Ele ressalta que o emprego formal tem sido o principal motor na criação de novos postos de trabalho, mesmo em uma economia com juros reais elevados.
André Valério, economista sênior do Banco Inter, reforça a ideia de um mercado de trabalho robusto, mas destaca que setores como administração pública e serviços de informação têm se destacado na criação de empregos, enquanto áreas mais cíclicas, como construção, enfrentam dificuldades.
Por fim, Valério sugere que, apesar dos resultados positivos, o mercado de trabalho pode desacelerar à medida que o aperto monetário comece a ser sentido, prevendo uma taxa de desocupação de 6,5% até o final do ano.