Novas Datas para as Assembleias

Na última terça-feira, 15 de julho, as gigantes do agronegócio brasileiro Marfrig e BRF anunciaram que as Assembleias Gerais Extraordinárias (AGEs) que discutirão a fusão entre as duas empresas foram remarcadas. A reunião dos acionistas da BRF está agendada para o dia 5 de agosto, com início previsto às 11 horas. Já os acionistas da Marfrig se reunirão na mesma data, mas a partir das 15 horas.

Vale destacar que as assembleias já sofreram dois adiamentos previamente, a pedido da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia alegou que as empresas não haviam fornecido informações suficientes sobre os critérios para a troca de ações, um aspecto crucial na análise da fusão.

Preocupações dos Acionistas

Acionistas minoritários expressaram suas preocupações em relação aos materiais apresentados, que continham apenas projeções financeiras com tarjas pretas, dificultando uma análise mais apurada. Recentemente, a assembleia que estava prevista para ocorrer no dia 14 de julho foi postergada por 21 dias em razão de solicitações feitas pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e por um investidor associado à família fundadora da Sadia.

No início da semana passada, a Previ anunciou a conclusão de seu processo de desinvestimento do plano de previdência privada na BRF, encerrando um ciclo de mais de três décadas com a empresa. Essa decisão impactou o desempenho das ações da BRF na Bolsa de Valores do Brasil (B3), que viu suas ações recuarem 4,5%, resultando na maior queda do pregão daquele dia.

Turbulências na fusão

A novela em torno da fusão começou quando a AGE estava inicialmente agendada para 18 de junho. Contudo, a CVM solicitou informações adicionais, adiando a reunião. Naquela ocasião, o pedido de cancelamento da assembleia, feito pela Latache Capital, acionista minoritária da BRF, foi negado, mas a CVM decidiu adiar a assembleia por 21 dias, contados a partir da entrega das informações requisitadas.

A CVM não encontrou razões que justificassem a suspensão, mas solicitou esclarecimentos e informações extras sobre a fusão. A Latache Capital argumentou que a documentação apresentada era insuficiente e apontou ilegalidades na formulação da ordem do dia.

Contestações da Minerva Foods

No final de junho, a Minerva Foods também se posicionou contra a fusão, apresentando um recurso ao Cade, órgão regulador, pedindo uma reavaliação do processo. A empresa destacou que a aprovação da fusão entre Marfrig e BRF estava sendo feita de forma apressada, sem considerar aspectos que poderiam afetar a concorrência, especialmente no mercado de alimentos processados.

Além disso, a Minerva alertou sobre a possibilidade de uma concentração excessiva em vários segmentos, o que aumentaria o poder de compra da nova entidade formada pela fusão. A empresa enfatizou que o Cade não considerou os impactos da fusão sobre o mercado de carne processada, especialmente no canal food service, que abrange fornecimento para restaurantes e redes de fast-food.

Em seu recurso, a Minerva mencionou que o mesmo Cade que impôs restrições à sua compra de ativos da BRF em 2014 parece ignorar as implicações do agora proposto negócio entre Marfrig e BRF.

Desdobramentos e Aprovações

No começo de junho, a área técnica do Cade indicou a aprovação da fusão sem restrições. Segundo o órgão regulador, a participação combinada de Marfrig e BRF em mercados com sobreposição ficaria abaixo de 20%, o que não é considerado uma posição dominante. Essa análise gera um certo otimismo quanto à viabilidade do negócio.

A fusão entre Marfrig e BRF, anunciada em 15 de maio, promete movimentar o mercado, formando uma entidade com uma receita líquida consolidada de R$ 152 bilhões nos últimos 12 meses. O novo conglomerado, denominado MBRF Global Foods Company, incorporará todas as marcas das duas empresas, incluindo a Sadia e a Perdigão. A proposta inclui a troca de ações da BRF por papéis da Marfrig, consolidando assim o controle da Marfrig, que já possui 50,49% da empresa.

Os acionistas da BRF receberão ações da Marfrig, e a relação de troca estabelecida é de 0,8521 ação da Marfrig para cada papel da BRF. Com isso, um investidor que possui 100 ações da BRF terá cerca de 85 ações da Marfrig após a conclusão do negócio. A fusão promete trazer benefícios significativos, com a BRF prevendo a distribuição de até R$ 3,52 bilhões em proventos e a Marfrig de R$ 2,5 bilhões.

A Expectativa para o Futuro

Se aprovada, a fusão poderá resultar em uma economia anual de R$ 485 milhões, com uma expectativa de corte de R$ 320 milhões em despesas. Além disso, a nova empresa pretende buscar listagem de suas ações nos Estados Unidos, o que poderia abrir novas oportunidades de investimento. Vale ressaltar que a Previ e o fundo soberano da Arábia Saudita, Salic, que detém participações significativas na BRF, apoiam a transação. Esta fusão representa potencialmente uma das mais significativas do agronegócio, que tem sido um pilar importante para a economia brasileira nos últimos anos.

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