Cancellation of Military Contracts: A Political Statement
O governo da Espanha tomou a decisão de cancelar um contrato bilionário, avaliado em 700 milhões de euros, com empresas espanholas que colaboravam na produção de armamentos de origem israelense. Essa medida é parte de um embargo total à cooperação militar com Israel, uma ação oficialmente anunciada na semana passada. O acordo, que previa suporte logístico e treinamento militar, entra como mais um capítulo nas tensões crescentes entre Madri e Tel Aviv.
Conforme relatórios do Military Balance, publicado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), o contrato abrangia a aquisição de 12 unidades de um sistema de lançamento de foguetes de alta mobilidade (SILAM), que é uma adaptação do sistema Puls, desenvolvido pela israelense Elbit Systems. O projeto estava sendo conduzido por um consórcio composto por empresas espanholas, prevendo a transferência de tecnologia e a produção local.
O anúncio do cancelamento do contrato se deu poucos dias após o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, revelar um pacote de nove medidas que visam “deter o genocídio em Gaza”. Entre as iniciativas, destacam-se o embargo completo à venda e compra de armas com Israel, o bloqueio de portos e aeroportos da Espanha para navios e aeronaves militares com destino ao país, além da proibição da entrada de autoridades israelenses acusadas de cometer crimes de guerra.
Além disso, o governo espanhol também implementou a proibição da importação de produtos oriundos de assentamentos ilegais na Cisjordânia e em Gaza, restringindo os serviços consulares a cidadãos espanhóis que residem nessas áreas ocupadas.
Sánchez afirmou com firmeza: “Isso não é defesa. Não é sequer ataque. É exterminar um povo indefeso.” Ele enfatizou que, apesar da Espanha não contar com poder militar, o país deseja “dar o exemplo” em prol da defesa do direito internacional.
Reação de Israel e Crise Diplomática
A resposta de Israel foi rápida e contundente. O ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, acusou o governo espanhol de “institucionalizar o antissemitismo”, além de declarar como “persona non grata” a vice-presidente Yolanda Díaz e a ministra Sira Rego. Ambas pertencem ao partido Sumar, que pressiona Sánchez a adotar uma postura mais firme contra Israel.
Saar também criticou a Espanha por sua hipocrisia histórica, lembrando a expulsão dos judeus em 1492 e descrevendo o governo espanhol como “corrupto e sem autoridade moral”.
Em resposta, Madri anunciou o aumento da ajuda humanitária à Palestina, que inclui o envio de efetivos à missão da União Europeia em Rafah, ampliação de projetos agrícolas e médicos com a Autoridade Palestina, além de elevar a contribuição à UNRWA. A ajuda direta a Gaza deve atingir cerca de 150 milhões de euros até 2026.
Ruptura Política e Consequências
A crise diplomática entre Espanha e Israel atingiu seu ápice desde o início da ofensiva em Gaza. A embaixadora espanhola em Tel Aviv foi chamada de volta para consultas, e o representante israelense em Madri foi convocado em duas ocasiões após a detenção de cidadãos espanhóis envolvidos na Flotilha da Liberdade.
Sánchez, defensor da solução de dois Estados, declarou que “o que ocorre em Gaza não pode ser nomeado de outra forma, senão genocídio”. Essa afirmação rompeu com a diplomacia habitual, solidificando uma ruptura política significativa entre os dois países.