Preocupações no Setor Pet

Pressões, cláusulas abusivas e práticas predatórias têm gerado um clima de apreensão entre fornecedores do setor pet. Em relatos ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), diversas empresas expressaram suas preocupações em relação à fusão entre as gigantes Petz e Cobasi. Os depoimentos incluem relatos de ações que poderiam prejudicar a concorrência e a própria dinâmica do mercado.

A fusão, que inicialmente obteve a aprovação da Superintendência-Geral do Cade, enfrenta agora um impasse. O processo foi interrompido após a Petlove, uma concorrente, interpor um recurso que destacou a pressão que os fornecedores estariam sofrendo. Recentemente, o relator do caso solicitou um prazo maior para a análise do assunto, citando a complexidade da transação.

Pelo menos sete empresas que atuam na produção de ração e outros produtos para animais se manifestaram com veemência sobre os impactos negativos da fusão. Entre elas, a Bonito pra Cachorro, conhecida por fabricar camas e acessórios para pets, destacou que a Petz impõe cláusulas de paridade que dificultam a oferta de preços mais competitivos por parte de concorrentes.

Relatos de Práticas de Dumping

A Bentonisa, especializada em areia para gatos, também trouxe à tona o conceito de “dumping silencioso”. A empresa argumentou que a fusão poderia resultar em uma concentração excessiva de poder de compra, permitindo à empresa consolidada negociar condições mais agressivas com fornecedores, forçando a aquisição de produtos a preços mais baixos. Essa dinâmica, segundo o relato, poderia levar à prática de preços de revenda mais elevados, afetando os consumidores finais.

“Essa mudança não só reduziria a diversidade de produtos no mercado, mas também colocaria os consumidores em desvantagem, uma vez que os preços tenderiam a aumentar”, afirmaram os representantes da Bentonisa em resposta ao Cade.

Questionados sobre os tipos de cláusulas contratuais em vigor com megastores como Petz e Cobasi, fornecedores como a Bonito pra Cachorro relataram que, em seus contratos, os concorrentes são obrigados a manter uma margem de preço mínima, evitando que possam oferecer seus produtos a preços inferiores aos praticados pela Petz. Essa prática, segundo a empresa, limita a concorrência e o acesso a preços mais justos.

Respostas de Outras Empresas

A Labyes, fabricante de medicamentos para pets, corroborou a preocupação, mencionando que existem garantias contratuais que impedem a oferta de preços menores por outras lojas. A Royale e a Pets Life, por sua vez, também confirmaram que produtos de suas linhas estão sujeitos às mesmas restrições, destacando que essas cláusulas visam evitar a competição de preços.

A Chalesco, que produz brinquedos e itens de higiene animal, admitiu que essas exigências são práticas comuns para garantir um ambiente competitivo equilibrado no mercado. A EMBRK, uma das fornecedoras que mais se destacou nas manifestações, foi enfática ao afirmar: “Vai quebrar todo mundo”, referindo-se ao poder de mercado que a fusão pode criar e ao controle que se estabeleceria sobre os preços finais. “A exigência de que o mercado mantenha o mesmo preço da Petz, com eles lucrando mais, é preocupante”, acrescentaram.

A Farmina, especializada em alimentos para cães e gatos, também expressou sua apreensão, afirmando que a fusão poderia resultar em um poder de compra excessivo das indústrias, impactando não apenas a margem de lucro, mas também as promoções realizadas nas lojas.

Embora as respostas dos fornecedores estejam documentadas e disponíveis para consulta, a Petz e a Cobasi se defenderam, alegando que é “falso” que algum fornecedor tenha questionado a fusão. Segundo a nota enviada ao Metrópoles, apenas uma pequena fração dos fornecedores fez observações, o que, segundo eles, diminui a relevância das reclamações.

O comunicado enfatizou que 76 fornecedores responderam ao Cade, mas apenas seis levantaram questões específicas. Além disso, a EMBRK é mencionada como concorrente direta da Petix, uma empresa adquirida pela Petz em 2021, o que pode influenciar seus interesses no processo.

Por fim, a nota conclui afirmando que tanto a Cobasi quanto a Petz acreditam que as informações apresentadas distorcem a análise que foi feita de forma técnica e imparcial pelo Cade, que consultou amplamente o mercado.

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