Na cidade de Avignon, na França, Dominique Pélicot, de 71 anos, confessou nesta terça-feira, 17, ser um estuprador, ao lado de outros réus que também estão enfrentando acusações graves. Ele é acusado de ter drogado sua esposa, Gisèle Pélicot, por quase uma década, de 2011 a 2020, permitindo que ela fosse agredida sexualmente por dezenas de homens. Durante seu depoimento, ele declarou: “Eu sou um estuprador, como todos os réus neste tribunal”. Essa contundente admissão chamou a atenção para a gravidade do caso viral, que expõe não apenas a vulnerabilidade da vítima, mas também os horrores que ocorreram sob a aparente normalidade do relacionamento.

Dominique, ao iniciar seu testemunho, ficou visivelmente emocionado ao recordar traumas da infância, incluindo um abuso que sofreu aos nove anos e um estupro que presenciou quando tinha 14 anos. Ele afirmou ter “reconhecido os fatos dos quais é acusado em sua totalidade”, um passo significativo que pode levar a reflexões sobre a responsabilidade e as consequências de suas ações. “Sou culpado pelo que fiz. Peço à minha esposa, aos meus filhos, aos meus netos, à sra. M. [esposa de outro réu que eu também teria estuprado], que aceitem minhas desculpas. Peço perdão, embora isso não seja uma coisa aceitável de se fazer”, disse ele, mostrando um semblante de arrependimento, embora a autenticidade de suas palavras seja questionada em meio à gravidade dos crimes cometidos.

“Ela era maravilhosa”, continuou, referindo-se a Gisèle, que o observava do banco das testemunhas. Dominique expressou a dor de ter arruinado um amor de quatro décadas, afirmando: “Eu a amei por 40 anos e a amei mal por 10 anos. Eu nunca deveria ter feito isso. Arruinei tudo. Perdi tudo. Preciso pagar por isso”. Ao enfatizar que “ela não merecia isso”, houve uma clara tentativa de responsabilizar não apenas a si mesmo, mas também os outros homens envolvidos, que estariam cientes da condição de Gisèle durante os atos de abuso.

A defesa de alguns réus sustenta que eles não sabiam que a mulher estava em um estado de inconsciência induzido por ansiolíticos e que, segundo eles, acreditavam que tudo fazia parte de um contexto consensual entre o casal. No entanto, Gisèle, em uma resposta sincera e dolorosa, disse se sentir consternada ao perceber a realidade de seu casamento de 50 anos. Ela declarou: “Durante 50 anos, vivi com um homem que eu não imaginava que pudesse cometer esses atos de estupro.” Sua confiança dissolvida deixa claro o impacto devastador que essas revelações tiveram em sua vida.

Dominique reafirmou que nunca considerou sua esposa como um objeto, embora a evidência, como vídeos que documentavam os abusos, contradisse suas palavras. O caso veio à tona após a prisão de Pélicot, em setembro de 2020, por filmar mulheres de forma clandestina em um supermercado. Durante a investigação, as autoridades descobriram um acervo alarmante de vídeos e fotos que documentavam suas ações ilícitas. Os investigadores identificaram mais de 50 homens, com idades variando entre 26 e 74 anos, que agora estão sendo julgados pela participação nos crimes.

No que pode ser considerado uma revelação crucial para o julgamento, Dominique observou que os vídeos foram um fator determinante para identificar os que participaram dos abusos, evidenciando um comportamento que, em última análise, se tornou uma compulsão. De acordo com seu depoimento prévio, que foi adiado devido a problemas de saúde, ele enfrentou condições médicas que exigiriam pausas regulares durante seu testemunho.

A atenção ao estado de saúde de Dominique foi um ponto importante, com especialistas que o avaliaram determinando que ele estava em condições de comparecer ao tribunal, embora com a ressalva de que ele necessitava de intervalos frequentes durante as audiências.

Esse caso não apenas expõe a complexidade de dinâmicas abusivas dentro de relacionamentos, mas também destaca a necessidade urgente de conscientização sobre consentimento e a luta contra a normalização do abuso sexual. À medida que o julgamento avança, a sociedade espera que a verdade prevaleça e que a justiça seja feita, não apenas para as vítimas diretas dos crimes, mas para todos que foram afetados pelas consequências devastadoras dessas ações.

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