Investigação Aprofundada no Setor Financeiro
A combinação de esforços entre o Ministério Público de São Paulo (MPSP), a Polícia Federal (PF) e a Receita Federal visa o que muitos chamam de “depuração” do mercado financeiro. Essa ação ocorre após o desencadeamento de três operações no final de agosto, todas focadas em desmantelar um esquema fraudulento e massivo de lavagem de dinheiro dentro do setor de combustíveis.
As investigações revelaram que as fraudes estavam interligadas a fundos de investimentos localizados na Faria Lima, o principal eixo financeiro do Brasil. Esses fundos, que operam em um espaço bastante obscuro, dificultam a identificação dos verdadeiros beneficiários dos ativos. Segundo as autoridades, esse esquema criminoso também contou com a participação de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Atualmente, o foco das investigações está em elucidar a engenharia financeira usada pelo grupo criminoso, concentrando-se na identificação dos fundos e suas gestoras. Uma fonte vinculada ao processo, que pediu para não ser identificada, informou ao Metrópoles que, a partir de agora, a atenção se voltará para os indivíduos por trás dessas operações financeiras.
Responsabilidade das Gestoras em Foco
Os investigadores têm se preocupado em descobrir quem eram os responsáveis pelas operações desses fundos e, principalmente, por que os gestores não cumpriram com as obrigações de compliance, as diretrizes que garantem que as empresas atuem dentro da legalidade. Para os responsáveis pela operação, havia diversas evidências indicando problemas em pelo menos 40 fundos de investimento, que juntos têm um patrimônio aproximado de R$ 30 bilhões.
Essas evidências incluíam falhas na análise cadastral e na avaliação da capacidade financeira dos cotistas, muitos dos quais eram considerados “laranjas”. Na estrutura organizada do grupo, os fundos serviam para captar dinheiro de origem ilícita, utilizando depósitos e transferências feitas por fintechs, o que tornava difícil rastrear a origem dos valores.
A Receita Federal identificou que os fundos foram usados para financiar a compra de bens de alto valor, como um terminal portuário e várias usinas de álcool, além de uma frota de 1.600 caminhões para transporte de combustíveis. Entre as aquisições, destacam-se também seis fazendas em São Paulo, avaliadas em R$ 31 milhões, e uma luxuosa residência em Trancoso, na Bahia, adquirida por R$ 13 milhões.
Estratégias de Ocultação em Camadas
Os chamados “fundos caixa-preta” da Faria Lima criaram um ambiente propício à opacidade das operações financeiras. Um membro da Operação Carbono Oculto, coordenada pelo MPSP, relatou que, frequentemente, ao tentarem rastrear os proprietários de empresas fictícias envolvidas no esquema, verificava-se que essas empresas pertenciam a fundos de investimento.
Entretanto, ao tentar identificar os donos desses fundos, os investigadores se deparavam com a mesma situação, criando uma teia complexa de camadas que escondiam os verdadeiros proprietários das empresas e bens. A Receita Federal indicou que as evidências sugerem que esses fundos eram utilizados como uma plataforma para ocultação e blindagem patrimonial, apontando que suas administradoras estavam cientes das irregularidades e falharam em cumprir as obrigações com o Fisco.
Tipos de Fundos Investigados
Grande parte dos fundos envolvidos na investigação se mostra como imobiliários, frequentemente utilizados para ocultar patrimônio. Há também fundos de direitos creditórios, que lidam com ativos financeiros como duplicatas e dívidas, além de uma variedade de fundos multimercado que permitem aplicações em diferentes tipos de ativos, incluindo criptoativos.
A Receita Federal observou que muitos desses fundos eram fechados, limitando o número de investidores ou mesmo permitindo apenas um cotista. Essa característica contribui para a dificuldade em auditar e monitorar as operações realizadas, tornando a investigação um desafio significativo.