Uma ex-aluna do professor e advogado Silvio almeida, que ocupou a posição de ministro dos Direitos humanos, revelou em uma entrevista à coluna que sofreu assédio sexual por parte de almeida em 2007, enquanto era estudante de Direito na Universidade São Judas, localizada em São Paulo. Este episódio ganhou destaque após a demissão de almeida, que aconteceu no dia 6 deste mês, em decorrência de denúncias que expuseram comportamentos de assédio sexual contra diversas mulheres, incluindo a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

A mulher, que preferiu não revelar sua identidade por receio de possíveis retaliações, detalhou sua experiência em duas conversas gravadas realizadas na quinta-feira, 12 de setembro. Importante ressaltar que o relato dela refere-se a um incidente distinto de um outro caso já veiculado, onde outra ex-aluna também denunciou almeida, mas cujo assédio teria ocorrido em 2009.

De acordo com o relato da ex-aluna, o episódio de assédio aconteceu logo no início do segundo semestre de 2007, durante um evento promovido pela Universidade São Judas. O que ocorreu foi presenciado por aproximadamente cinco colegas e uma professora, que estavam presentes na sequência de eventos. “Nós estávamos em um grupo conversando, quando ele [Silvio almeida] se aproximou. A minha sensação era de desconforto, então, para evitar cumprimentá-lo, dei um passo para trás. Mas, ao me ver, ele se dirigiu a mim e comentou que eu não iria lhe dar um beijo com ‘essa sua boca gostosa’. Naquele momento, eu congelei. Ele se aproximou e me deu um beijo no canto da boca, atingindo quase meio lábio. Aquilo me deixou em choque e imediatamente me afastei do grupo”, relatou a mulher.

Além de seu testemunho, a ex-aluna enviou à coluna capturas de tela de conversas com um conhecido, datadas de dezembro de 2022 e janeiro de 2023, nas quais compartilhava o relato do que havia passado em 2007. Para ela, a conduta de Silvio almeida se assemelha à de um “predador sexual”. “Não é necessário ser especialista na área do direito para reconhecer comportamentos predatórios”, afirma.

Em 2006, um ano antes do incidente mencionado, Silvio almeida foi professor da ex-aluna no curso de Direito, lecionando a disciplina de Filosofia. Durante esse período, a estudante e suas colegas já haviam notado comportamentos que consideravam inadequados por parte de almeida. “Ele tinha um jeito peculiar de nos observar, mordia os lábios enquanto nos encarava. O modo como ele nos abraçava, muitas vezes, era fora do comum, com as mãos posicionadas um pouco abaixo da região do seio. Era algo manifestamente desconfortável”, recordou a ex-aluna.

Passados 17 anos desde o incidente, a ex-aluna revelou que ainda é impactada emocionalmente ao recordar a situação, especialmente agora que novas denúncias de assédio sexual contra o ex-ministro estão sendo divulgadas. “sinto um nojo imenso, é como se eu fosse revitada a cada nova matéria. sinto que minha liberdade foi invadida, ele encostou em mim sem meu consentimento. Essa dor é constante. Cada vez que abro a internet e vejo referências a outros casos, parece que estou vivendo aquele momento novamente”, explicou.

Ela também expressou sua preocupação sobre o impacto que uma denúncia sem anonimato pode ter na carreira de uma vítima, especialmente em um ambiente jurídico envolvendo grandes escritórios. Contudo, incentivou outras mulheres que passaram por situações semelhantes a se manifestarem. “Hoje, com as redes sociais, ficou mais acessível denunciar. Precisamos falar para que esses episódios não voltem a acontecer”, afirmou a ex-estudante.

Ao ser contatado, Silvio almeida não respondeu às solicitações. O espaço segue em aberto para qualquer manifestação que ele possa desejar fazer a respeito.

A Universidade São Judas, por sua vez, informou que está investigando a situação e ressaltou que não recebeu denúncias formais contra Silvio almeida. O comunicado da instituição menciona seu compromisso com um ambiente seguro e respeitoso, repudiando qualquer tipo de assédio. “Até o momento, não temos conhecimento de qualquer relato formal em nossos canais de denúncia. Porém, mesmo sem um vínculo jurídico com o ex-professor há cinco anos, estamos apurando a questão interna e colaborando com as autoridades competentes para esclarecer os fatos”, conclui a nota.

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