O Crescente Arsenal das Facções
A crescente presença de fuzis nas mãos de facções criminosas no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, revela um cenário alarmante. Esse ambiente perigoso é caracterizado pela mistura de armamentos legítimos, vindos do tráfico internacional, e os chamados “copyfakes” – armas falsificadas ou feitas artesanalmente que, mesmo sem a robustez dos armamentos originais, continuam a apresentar um alto poder letal.
Em uma entrevista exclusiva, Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, enfatizou a complexidade desse arsenal e a urgência de uma ação abrangente contra a criminalidade. Segundo ele, a legislação atual no Brasil ainda é permissiva em relação ao porte de armas de guerra. Enquanto essa realidade não mudar, o problema provavelmente se tornará ainda mais grave.
A Circulação de Fuzis e seus Números Alarmantes
A evidência do aumento na circulação de fuzis é visível nas estatísticas. Em 2024, o Rio de Janeiro registrou 732 apreensões, o maior número já contabilizado em sua história. Um estudo realizado pela Polícia Militar indicou que impressionantes 95% dos fuzis retirados do crime no estado foram fabricados fora do Brasil, demonstrando que o tráfico internacional é a principal fonte desses armamentos.
Entretanto, a questão não se restringe apenas às armas originais. As facções também têm acesso a “copyfakes”, que são réplicas de fuzis renomados, fabricadas clandestinamente com materiais de qualidade inferior. Apesar de não possuírem a precisão ou durabilidade de seus equivalentes legítimos, esses armamentos continuam a representar uma ameaça severa e são mais acessíveis financeiramente para o crime organizado.
Um caso recente ilustrou essa problemática: a prisão de um armeiro que, desde 2018, comercializava fuzis piratas a traficantes no Rio. Durante uma operação na Vila Cruzeiro, dois modelos falsificados do Colt americano foram confiscados.
Produção Artesanal e seu Crescimento
Além das falsificações, a fabricação artesanal de armas também se destaca. Isso inclui desde fuzis rudimentares até submetralhadoras feitas com impressoras 3D. Informações obtidas pela BBC News Brasil através da Lei de Acesso à Informação revelam que as apreensões de armas artesanais têm crescido em várias regiões do país, o que acentua ainda mais a preocupação.
Os Impactos Diretos nas Comunidades
O resultado dessa realidade é um aumento significativo no poder de fogo nas mãos das facções, o que intensifica os confrontos, eleva os índices de violência e cria um clima de terror nas comunidades dominadas pelo tráfico. Para Felipe Curi, a legislação vigente contribui para esse cenário caótico.
Aos olhos da lei, criminosos flagrados portando fuzis em áreas de tráfico respondem por associação ao tráfico, com pena ampliada pelo uso da arma, mas sem condenação adicional por porte ilegal. “Isso transforma o porte de fuzil em uma escolha vantajosa para os criminosos. Eles sabem que, na prática, a pena que cumprirão será curta”, apontou Curi.
O secretário propõe que a pena para o porte de fuzis seja mais rigorosa e cumulativa com outros crimes, equiparando-a à penalidade prevista para o tráfico internacional de armas, que varia de 16 a 24 anos de reclusão.