Desdobramentos Após a Condenação

A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares de alta patente marca um momento sem precedentes na história do Brasil, onde raramente houve punições para aqueles que atentaram contra o Estado. No entanto, essa decisão não sinaliza o fim da polarização política que há anos emperra o país. A expectativa é de que a disputa entre os extremos da política nacional, tanto da direita quanto da esquerda, continue intensa.

Nesta semana, é esperado que grupos radicais bolsonaristas intensifiquem seus esforços em prol de um projeto de anistia ampla, geral e irrestrita. Enquanto isso, do outro lado, cresce a ênfase na defesa da soberania nacional, uma estratégia que tem beneficiado a popularidade do presidente Lula, mesmo correndo o risco de banalizar o conceito, dada a frequência com que é empregado.

Em resumo, o Brasil, admirado por sua coragem em defender a democracia, ainda enfrenta uma política rasteira e mesquinha que não parece dar sinais de mudança.

Expectativas e Realidade do Julgamento

O resultado do julgamento era bastante previsível para a maioria dos brasileiros, exceto para o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que se mostrou “surpreendido”. Aqui, a única real surpresa foi o voto do ministro Luiz Fux, que optou pela absolvição, enquanto a grande maioria apostava na condenação de Bolsonaro. Essa expectativa já havia levado seus aliados a tramarem soluções alternativas para evitar que o “mito” fosse encarcerado.

Nos bastidores, a ideia de uma anistia foi sendo elaborada desde o ano passado, disfarçada como um benefício aos manifestantes que vandalizaram os palácios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Atualmente, os bolsonaristas rejeitam a ideia de um perdão brando, uma vez que isso poderia libertar Bolsonaro e restaurar sua elegibilidade, o que está longe de ser um consenso.

Aposta em anistia e as Consequências Políticas

O deputado Eduardo Bolsonaro, que está em autoexílio nos Estados Unidos desde o carnaval, tem buscado inspiração no modelo de anistia americana nas conversas com assessores de Trump. Ele teria afirmado que a pressão tarifária, mesmo antes de ser implementada, poderia facilitar a tramitação da anistia para seu pai no Congresso. Contudo, essa estratégia parece ter falhado, e suas tentativas de impor sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, e a outros ministros da Suprema Corte, não trouxeram os resultados esperados.

Essas tarifas e sanções, que eram consideradas absurdas por muitos, acabaram por fortalecer a imagem de Lula como defensor da soberania nacional, ao mesmo tempo que marcaram os bolsonaristas como traidores da pátria, uma imagem que foi reforçada durante manifestações com bandeiras dos Estados Unidos na Avenida Paulista, em um ato que deveria ser de celebração da Independência do Brasil.

O Futuro do Bolsonarismo e do Congresso

No cenário pós-condenação, o bolsonarismo se encontra em uma posição vulnerável, com muito a perder, o que deve levar a um endurecimento de suas posturas. Eduardo busca novas sanções dos Estados Unidos contra os ministros que condenaram seu pai, além de tentar pressionar a Câmara para que o projeto de anistia continue em pauta. Contudo, a falta de coesão entre as facções do bolsonarismo pode dificultar a viabilidade de um perdão irrestrito para Bolsonaro, com a possibilidade de que isso dependa de um futuro indulto, caso o governador paulista Tarcísio de Freitas se candidate e vença as eleições.

Enquanto isso, o Congresso, que estava praticamente paralisado aguardando a condenação, tende a manter um ritmo lento, focando em debates que distanciam-se das urgências nacionais. À direita, as pautas parecem limitadas à CPMI do INSS e à anistia, que está sendo colocada como prioridade em detrimento de reformas essenciais, como a tributária e a de segurança pública. Por sua vez, Lula já sinalizou que demitirá qualquer membro do governo que votar a favor da anistia, incluindo os indicados por parlamentares.

O Legado da Decisão Judicial

A condenação de Bolsonaro e seus aliados trouxe alívio para aqueles que acreditam na democracia, mas para muitos, tanto na direita quanto na esquerda, as implicações ainda não foram plenamente compreendidas. Se assim fosse, não haveria tantas tentativas de anistia ou o uso da decisão como uma ferramenta de marketing eleitoral.

Mary Zaidan é jornalista e observa de perto os desdobramentos políticos do Brasil.

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