Descobertas Fascinantes Sobre Cérebros Antigos
Em uma sala repleta de mistérios, a cientista britânica Alexandra Morton-Hayward apresenta um de seus itens mais intrigantes. “Esse é o meu favorito. Desculpe o cheiro. É formaldeído,” diz ao segurar um Cérebro apelidado de Rusty, ou “enferrujado”. Esse órgão encolhido, que se destaca entre mais de 600 cérebros antigos que compõem sua coleção, revela a dedicação de Morton-Hayward à antropologia forense, em sua pesquisa na Universidade de Oxford, onde cuida de espécimes que datam de até 12 mil anos.
Morton-Hayward afirma não conhecer outra coleção semelhante, e se pergunta: como é possível que cérebros que normalmente se decompõem tão rapidamente após a morte tenham sido encontrados em sítios arqueológicos? Este enigma a fascina e, segundo ela, a resposta pode abrir portas para o entendimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, que afetam milhões de pessoas.
Um Caminho Pessoal Marcado pela Dor
A surpreendente jornada de Morton-Hayward começou em um momento de dor pessoal. Enquanto estudava Arqueologia na Universidade de St. Andrews, na Escócia, ela começou a sofrer de cefaleias em salvas, uma condição que a afastou da universidade e a levou a trabalhar em uma funerária. “Lembro-me de chorar não apenas pela dor intensa, mas pela confusão sobre o que estava acontecendo comigo,” recorda a pesquisadora. O diagnóstico tardio da doença, considerada uma das mais dolorosas conhecidas, transformou sua vida, mas também moldou sua compreensão sobre o Cérebro humano.
“De acordo com um estudo de 2020, a cefaleia em salvas é classificada como a condição mais dolorosa, com uma nota de 9,7 em uma escala de dor de 0 a 10,” acrescenta. Apesar do sofrimento, Morton-Hayward conseguiu retomar seus estudos em 2015, formando-se com honras e finalmente se especializando em bioarqueologia e antropologia forense.
Preservação: O Enigma dos Cérebros Antigos
Muitos cérebros que ela investiga têm origens em contextos trágicos, como valas comuns ou vítimas de violência. Isso levanta questões sobre a relação entre trauma e preservação cerebral. “O ferro se acumula no Cérebro com a idade, e esse acúmulo pode estar associado a experiências de trauma e estresse,” reflete. A cor avermelhada de Rusty, seu Cérebro favorito, exemplifica esse fenômeno: “O excesso de ferro pode indicar que essas pessoas passaram por situações extremas em vida.”
Morton-Hayward e sua equipe de Oxford recentemente compilaram um dos maiores arquivos de cérebros humanos preservados, com mais de 4 mil espécimes de diferentes épocas e locais, demonstrando que a preservação é mais comum do que se pensava. Ao estudar as condições que permitem essa longevidade, ela descobre que os mesmos processos que deterioram o Cérebro vivo podem, paradoxalmente, contribuir para sua preservação após a morte.
Uma Nova Perspectiva sobre Doenças Neurodegenerativas
O que há de fascinante na pesquisa de Morton-Hayward é a possibilidade de que estudos sobre cérebros antigos possam revelar insights sobre o envelhecimento e as doenças que afetam o Cérebro atualmente. Ao observar como as gorduras e proteínas se agregam em cérebros antigos, ela sugere que os mesmos mecanismos que podem causar doenças como Alzheimer também podem ser a chave para entender a preservação. “O acúmulo de proteínas anormais que prejudica a função cerebral é semelhante ao que encontramos em cérebros antigos; isso pode nos ajudar a compreender melhor a demência” explica.
Trabalhando também com tecnologias avançadas, como o síncrotron Diamond Light Source, Morton-Hayward analisa a composição mineral e molecular dos cérebros em detalhes, buscando desvendar os mistérios que eles encerram.
Reflexões sobre Dor e Resiliência
Enquanto investiga o passado, Morton-Hayward continua a enfrentar seus próprios desafios. Com medicamentos e meditação, ela busca conviver com sua condição, refletindo sobre a resiliência do Cérebro humano em todas as suas formas. “A dor é tão intensa que, em certos momentos, parece que meu corpo se recusa a armazená-la na memória. Aprendi a conviver com isso,” conclui. Reconhecendo a complexidade do Cérebro, ela celebra sua capacidade de adaptação e resistência, tanto em vida quanto após a morte.