Uma densa nuvem de fumaça, visível até do espaço a aproximadamente 1,5 milhão de quilômetros da Terra, foi destaque em uma recente publicação da metsul, uma das principais plataformas meteorológicas do brasil, localizada em Porto Alegre. De acordo com a metsul, a imagem capturada pelo satélite DSCOVR, da NASA, revela um vasto “corredor de fumaça” que se estende pela América do Sul, abrangendo desde a região amazônica até o Sul do brasil, e afetando diversas áreas do território nacional. Esse fenômeno alarmante é resultado das devastadoras queimadas que têm impactado o brasil, levantando preocupações significativas sobre a qualidade do ar e a saúde ambiental.
Neste fim de semana, diversas instituições meteorológicas emitiram alertas sobre a deterioração da qualidade do ar prevista para a semana seguinte. Esse cenário levanta o risco de um fenômeno conhecido como “chuva negra”, que já foi registrado no início de setembro em áreas do Sul e Sudeste do brasil. Mas, afinal, o que é a chuva negra e quais são suas consequências?
A chuva negra é um fenômeno que tem se intensificado no centro-sul do brasil, servindo como um reflexo direto da crescente ocorrência de queimadas na amazônia e no Pantanal. Ocorre quando partículas de fuligem e outros materiais resultantes da queima de biomassa são transportadas pelas correntes de ar e se mesclam com a umidade carregada pelos chamados rios voadores. Ao se condensar e precipitarem na forma de chuva, essas gotículas de água podem conter resíduos de carbono, que conferem uma coloração escura à precipitação.
Pesquisas realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da amazônia (INPA) indicam que a fuligem gerada por queimadas pode se deslocar por milhares de quilômetros, dependendo das condições meteorológicas. Esse transporte pode comprometer tanto áreas urbanas quanto rurais, ampliando o alcance dos impactos negativos. Além de sua aparência, a chuva negra traz consigo uma gama de substâncias tóxicas que podem afetar a qualidade do solo, dos corpos d’água, prejudicando também a saúde de animais e a produção agrícola.
A presença de materiais particulados provenientes das queimadas pode mudar a química do solo, afetando a vegetação e, consequentemente, a fauna que depende dela, devido à exposição a toxinas presentes na fumaça. Em regiões com intensa atividade agropecuária, essa água contaminada pode ser ingerida por rebanhos, prejudicando a saúde dos animais e afetando a qualidade dos produtos agrícolas. Estudos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) demonstram que a fuligem detectada em corpos d’água pode ser prejudicial à saúde de peixes e outros organismos aquáticos, perturbando toda a cadeia alimentar local.
Dados de um estudo encomendado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que, desde a década de 1960, o brasil tem experimentado um aumento no número de dias consecutivos sem chuva. Essas informações farão parte do primeiro Relatório Bienal de Transparência do brasil, que deve ser apresentado até dezembro deste ano, dentro do compromisso firmado por países participantes da COP24, realizada na Polônia em 2018.
Os rios voadores, que são fundamentais para a formação da chuva negra, referem-se a grandes massas de vapor d’água que evaporam da amazônia e são transportadas pelos ventos para várias partes do brasil. Este fenômeno foi popularizado por pesquisadores como Antônio Nobre, do INPE, e é essencial para o ciclo hidrológico brasileiro, garantindo que regiões longe da floresta, como o Cerrado e o Sudeste, recebam chuvas vitais para a agricultura e o abastecimento hídrico.
Uma única árvore amazônica pode liberar até 300 litros de água na atmosfera diariamente, e o total de vapor d’água transportado pelos rios voadores é comparável ao volume do rio Amazonas, um dos mais imponentes do mundo. Contudo, a devastação florestal e o aumento das queimadas têm impactado esse sistema natural, trazendo consequências alarmantes, incluindo a poluição do ar e a precipitação de chuvas contaminadas.
O fenômeno dos rios voadores e suas interações complexas com o clima e a natureza brasileira têm sido tema de múltiplos estudos, revelando-se uma peça vital no quebra-cabeça das mudanças climáticas no país. Com a intensificação da seca e a maior frequência da “chuva negra”, há um clamor crescente entre cientistas e ambientalistas para que medidas urgentes sejam adotadas para preservar esses corredores de vida que sustentam diversas regiões, mitigando, assim, os impactos devastadores para o meio ambiente e a saúde pública.