Análise das Táticas de Poder do Ex-Presidente dos EUA

A recente postura da administração de Donald Trump em relação ao Brasil resgata uma tradição histórica de interferência dos Estados Unidos na América Latina, que frequentemente resulta em desestabilizações políticas. Desde a imposição de tarifas de 50% ao Brasil, Trump tem pressionado para a suspensão do processo contra Jair Bolsonaro, insinuando que a atual administração de Luiz Inácio Lula da Silva teria algum poder jurídico para isso. Contudo, essa expectativa parece estar mais próxima da fantasia do que da realidade, considerando que interromper um julgamento exigiria uma violação da Constituição brasileira.

Este cenário se torna ainda mais alarmante com as evidências crescentes que ligam Bolsonaro a planos de golpe de Estado, corroborados por testemunhos de militares de alta patente. Ao falar em uma suposta “caça às bruxas”, apóia-se, na verdade, as ações autoritárias da extrema direita no Brasil, enquanto se desconsidera a validade dos processos democráticos do país.

Ademais, a afirmação de Christopher Landau, ex-vice-secretário do Departamento de Estado dos EUA, de que a separação de poderes é a maior garantia de liberdade, soa irônica. Isso porque Landau representa uma administração que, sob a liderança de Trump, já desafiou as mesmas instituições que agora defende. O ex-presidente não hesitou em convocar seus apoiadores para invadir o Capitólio, atacar publicamente juízes e deslegitimar a oposição política. Essa abordagem revela um desprezo claro pela democracia que eles alegam apoiar.

O Insulto das Lições de democracia

É inegável que o Brasil enfrenta desafios significativos em sua democracia, como a desigualdade e a corrupção. No entanto, os Estados Unidos também são classificados pela Economist Intelligence Unit como uma “democracia com falhas”, afetada por problemas como a degradação cultural democrática e o domínio de interesses financeiros no processo legislativo. Portanto, a ideia de que o Brasil deve receber lições de democracia de uma administração como a de Trump parece absurda.

Enquanto os processos eleitorais nos EUA são frequentemente tumultuados e contestados, o Brasil possui um sistema eleitoral que, por sua vez, é mais seguro e confiável. O modelo eleitoral americano permite que uma minoria tenha poder de decisão sobre a maioria, como evidenciado nas eleições de 2016, quando Trump venceu mesmo perdendo em termos de votos populares. Garcia a distorção é ainda mais evidente no Senado, onde estados com populações menores possuem o mesmo peso que estados muito mais populosos, como a Califórnia.

As tentativas do governo Trump de atacar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, seguem uma estratégia similar à que foi aplicada nos EUA: minar a credibilidade do Judiciário e questionar suas decisões. Essa tática, além de ameaçar a separação de poderes, coloca em risco um equilíbrio institucional já fragilizado.

A Receituário de Desestabilização Histórica

Não é novidade que a desestabilização política na América Latina foi uma receita aplicada pelos EUA ao longo do século 20, visando derrubar governos que buscavam proteger seus povos da exploração. Tratar governos de esquerda como “socialistas” ou “comunistas” e usar isso como justificativa para intervenções é uma abordagem que se repete agora sob o governo Trump. A retórica de “liberdade e democracia” esconde, na prática, a intenção de fortalecer interesses que estão alinhados com a extrema direita brasileira.

Neste contexto, é vital reconhecer a importância de figuras como Moraes, que se posicionam como defensores da democracia contra as tendências autoritárias que emergem do bolsonarismo. Suas ações estão alinhadas com o mandato constitucional do STF de proteger a democracia, apesar de algumas medidas serem consideradas severas. A atenção que o governo Trump dedica a pessoas ligadas a um clã que se sustenta em dinheiro público e extremismo revela mais sobre suas verdadeiras intenções do que sobre um genuíno zelo pela democracia.

Historiadores sugerem que Trump pode ser visto como um símbolo do último suspiro do império americano em sua fase decadente. Quando os impérios se desintegram, sua reação pode ser violenta e irracional, em busca de um passado idealizado que nunca mais vai retornar. O filósofo Antonio Gramsci já afirmou que, no vácuo entre a morte do antigo e o nascimento do novo, surgem monstros. O fenômeno Trumpista é, sem dúvida, um desses monstros, e o Brasil, assim como o restante do mundo, faria bem em evitar suas garras.

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