O vereador carlos bolsonaro, filho do ex-presidente jair bolsonaro, manifestou-se nas redes sociais após ser indiciado pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 17 de junho. O indiciamento ocorreu em decorrência da finalização de um inquérito que investigou o uso indevido da estrutura da agência Brasileira de Inteligência (abin) para a espionagem ilegal de opositores políticos, um esquema que ficou conhecido como “abin Paralela”. Em sua conta na rede social X, carlos expressou sua indignação: “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não. É só coincidência.”
Além de carlos, outros envolvidos no caso incluem o deputado federal Alexandre Ramagem, que foi ex-diretor da abin, e o atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa. A investigação resultou no indiciamento de 32 indivíduos, sendo que a conclusão do inquérito foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).
As investigações da PF se concentraram em como a abin foi utilizada para monitorar adversários e opositores políticos do ex-presidente jair bolsonaro entre 2019 e 2021, sob a liderança de Alexandre Ramagem. O esquema de espionagem, segundo a PF, fazia uso de um sofisticado software de inteligência israelense chamado First Mile, que foi adquirido durante o governo de Michel Temer. Essa ferramenta permitia o rastreamento da localização de indivíduos a partir de dados coletados por torres de telecomunicações.
As acusações enfrentadas pelos investigados incluem crimes graves, como organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivos eletrônicos alheios. As investigações revelaram que havia quatro núcleos distintos operando dentro dessa estrutura clandestina. O primeiro núcleo envolvia assessores próximos a carlos bolsonaro e a Alexandre Ramagem, onde funcionárias como Luciana Almeida e Priscilla Pereira e Silva atuavam como intermediárias na troca de informações que beneficiavam a família bolsonaro.
Outro núcleo, denominado “Alta Gestão”, abrangeu a alta cúpula da abin, que, segundo a PF, tinha pleno conhecimento do uso indevido das ferramentas da agência e buscava dar uma aparência de legalidade às atividades irregulares. O núcleo “Portaria 157” era responsável por ações que tentavam associar parlamentares e ministros do STF a organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Por fim, o núcleo “Tratamento Log” era encarregado de operar o software First Mile e gerenciar os números que deveriam ser monitorados.
Esses dois primeiros núcleos eram especialmente críticos, pois interferiam diretamente nas investigações da Polícia Federal que envolviam os filhos de jair bolsonaro, criando evidências favoráveis a Renan bolsonaro e elaborando relatórios em defesa do senador Flávio bolsonaro. A PF, no entanto, não descartou a possibilidade de haver outros núcleos não identificados e que mais servidores estivessem envolvidos nesse esquema de espionagem ilegal.
Em julho de 2024, o ministro do STF, alexandre de moraes, decidiu derrubar o sigilo da investigação, revelando documentos que expunham os nomes das pessoas que foram alvo das atividades da “organização criminosa” durante o governo bolsonaro. As investigações mostraram que membros dos Três Poderes e jornalistas também foram espionados. Entre os alvos estavam ministros do Judiciário, como alexandre de moraes, Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux, além de figuras proeminentes do Legislativo, como deputados e senadores de destaque.
A espionagem também se estendeu a figuras do Executivo, como o ex-governador de são paulo João Doria, e a servidores do Ibama e auditores da Receita Federal. Além disso, jornalistas renomados, incluindo Monica Bergamo e Vera Magalhães, foram alvos das ações do grupo. As investigações revelaram ainda a criação de perfis falsos e a disseminação de informações falsas, evidenciando a gravidade do esquema de espionagem que transpôs os limites da legalidade e da ética política.
Esse caso, que expõe não apenas práticas ilegais, mas também um grave desvio de função das instituições de segurança do Estado, continua a repercutir no cenário político brasileiro, levantando questões fundamentais sobre a proteção da democracia e a integridade das instituições.