Estratégia do PL frente à Tarifação

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão responsabilizando a Cúpula do Brics pela decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada na quarta-feira (9). Essa narrativa visa proteger o bolsonarismo de eventuais críticas em relação à medida imposta pelos Estados Unidos.

Entretanto, interlocutores do PL reconhecem que essa situação pode trazer um desgaste inevitável para Bolsonaro e, ao mesmo tempo, abrir espaço para que o governo petista adote uma postura opositora, intensificando o discurso do “nós contra eles”.

Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez críticas contundentes. Ele afirmou que o ex-chefe do Executivo e sua família estão “conspirando” contra os interesses do Brasil. A declaração de Haddad reflete uma estratégia clara do governo atual para enfrentar as críticas que surgem relacionadas à situação econômica.

O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se encontra nos Estados Unidos desde fevereiro, atua como um dos principais articuladores da família Bolsonaro junto ao governo Trump. Sua presença nos EUA também é vista como um ponto relevante nas discussões sobre a influência dessas tarifas sobre os produtos brasileiros.

Por outro lado, setores da direita consideram que a carta de Trump comete um erro ao vincular a sobretaxa ao processo contra Bolsonaro, descrito pelo presidente americano como uma “caça às bruxas”. Essa abordagem é criticada por representantes da esquerda, que chamam a medida de Trump de “chantagem”, argumentando que os brasileiros serão os mais afetados por interesses pessoais da família Bolsonaro.

Com a implementação dessa taxação de 50%, setores como o petroquímico, mineral e agropecuário estão entre os mais vulneráveis, especialmente as áreas de café, carnes e suco de laranja, que tradicionalmente apoiam o ex-presidente.

Desde o anúncio de Trump, os bolsonaristas têm concentrado esforços para atribuir a responsabilidade pelo ocorrido ao governo atual. Em grupos de WhatsApp, têm apontado questões ideológicas, como a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em relação às Big Techs, além de críticas direcionadas à primeira-dama, Janja da Silva, por seus comentários sobre o empresário Elon Musk.

Os bolsonaristas também destacam elogios de Lula à ex-presidente argentina Cristina Kirchner e mencionam o uso de um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para buscar a ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, que recentemente recebeu asilo político após ser condenada por lavagem de dinheiro.

As críticas à diplomacia brasileira também têm ganhado força, com alegações de falta de pragmatismo, e citam a declaração final da Cúpula do Brics, que expressou “sérias preocupações” sobre o aumento do protecionismo e as medidas comerciais unilaterais. A insatisfação com a forma como o governo brasileiro aborda essas questões tem gerado um clima de tensão.

No último domingo (6), Trump utilizou suas redes sociais para ameaçar com tarifas adicionais aqueles que se alinharem ao grupo Brics. Contudo, em sua carta enviada a Lula, o presidente americano não fez referências diretas ao evento, o que tem gerado especulações sobre a real motivação por trás da taxa.

Informações da CNN destacam que as questões jurídicas que envolvem Bolsonaro, que é réu por tentativa de golpe de Estado, não serão discutidas nas negociações do governo brasileiro para tentar reverter a sobretaxa de 50% imposta por Trump.

Atualmente, a avaliação de membros do governo Lula é de que a carta do presidente americano indica a falta de opções para contestar essa medida no âmbito comercial e econômico, uma vez que os argumentos apresentados não possuem fundamento sólido, especialmente considerando o histórico déficit do Brasil na balança comercial com os Estados Unidos.

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