são paulo — A recente decisão de um desembargador do Tribunal de Justiça de são paulo (tjsp), que anulou o divórcio entre Denise Seixas e Rinaldo Luiz de Seixas, conhecido como apóstolo Rina, trouxe à tona uma série de alegações envolvendo a gestão financeira da conhecida igreja evangélica Bola de Neve. De acordo com membros do conselho da instituição, a pastora Denise Seixas não teria interrompido o recebimento de valores que estavam previstos em um contrato, acumulando, desde agosto, aproximadamente R$ 340 mil.

A 9ª Câmara de Direito Privado do tjsp confirmou uma sentença proferida em primeira instância, que data de 18 de dezembro e foi relatada por Edson Luiz de Queiroz. Essa decisão reconhece a pastora como viúva do apóstolo Rina, falecido em novembro em decorrência de um grave acidente de moto. Com a anulação do divórcio, os acordos estabelecidos durante o processo de separação, que não chegaram a ser homologados judicialmente, perderam a validade, alterando a situação legal de Denise.

O conselho da Bola de Neve defende que Denise havia assinado um acordo em 27 de agosto de 2024. A documentação do divórcio, à qual o Metrópoles teve acesso em novembro, revela que a pastora abdicou de seu cargo como vice-presidente da igreja. Um dia após a morte de Rina, em 18 de novembro, o conselho elegeu Gilberto Custódio de Aguiar como vice-presidente interino e, por meio dos advogados Antônio Palma, Antonio Dourado, Luís Antônio Ribeiro e Renato Armoni, acusou Denise de invadir as dependências da igreja.

Em uma nota divulgada pela assessoria de imprensa no dia 7 de janeiro, a liderança da Bola de Neve detalhou que o acordo firmado com o consenso dos advogados de Denise abordava diversas questões da separação, incluindo o pagamento de pensões e aluguel do apartamento onde a cantora gospel reside. Eles afirmaram que, desde o final de novembro, Denise questionou a validade do acordo, mas destacou que a pastora continuou a receber os montantes acordados, somando R$ 8.183,82 mensais de aluguel, R$ 25 mil mensais de pensão e R$ 10 mil mensais referentes ao seu papel como pastora. Nos últimos cinco meses, incluindo janeiro de 2025, a quantia totalizou R$ 215.919,10, além de R$ 123 mil destinados à compra de bens para o imóvel, totalizando quase R$ 340 mil.

A comunicação do conselho enfatizou que em nenhum momento Denise cogitou abrir mão desses benefícios ou devolver qualquer quantia. mensagens trocadas que datam do mês de novembro mostram a pastora cobrando pagamentos, mesmo após a morte de Rina, ressaltando que essas informações são de conhecimento do Poder Judiciário.

A defesa de Denise Seixas, por sua vez, nega que a pastora tenha recebido as quantias mencionadas e afirma que não houve um acordo formal, considerando que as alegações do conselho são infundadas.

Nos últimos meses, a disputa judicial pelo controle da Bola de Neve provocou diversas reviravoltas. Após o conselho obter um mandado de reintegração de posse que autorizou ações severas, incluindo arrombamento, para retirar Denise das instalações da igreja, a pastora obteve uma decisão favorável em outra jurisdição do tjsp. No dia 12 de dezembro, o juiz Fabio Evangelista considerou que a separação entre Denise e Rina não foi homologada, portanto não tinha efeitos jurídicos. Esse entendimento também reconheceu parcialmente a solicitação da pastora para afastar o atual conselho administrativo da igreja.

Denise argumenta que, após a morte de Rina, ela tem direito à sucessão da liderança da Bola de Neve e se considera a vice-presidente legítima da instituição. O conselho, por sua vez, alega que a decisão de 2ª instância é provisória e não confere a Denise a presidência da igreja, uma vez que a jurisdição terá que ser reavaliada, considerando que já há um juiz que se declarou incompetente para lidar com o caso.

Além disso, a defesa de Denise Seixas manifestou a intenção de formar uma nova diretoria para a Bola de Neve, implementando novos nomes para o conselho. Entretanto, a situação se complica ainda mais com as acusações de desvio de verbas por parte de membros do conselho, incluindo Everton César Ribeiro, que é apontado como responsável por movimentações financeiras irregulares na conta do apóstolo Rina. Segundo Denise, a época em que a instituição contava com cerca de 560 templos, sua arrecadação anual pode atingir até R$ 250 milhões.

Outra questão polêmica envolve a empresa SIAF Solutions Serviços de Tecnologia Limitada, que supostamente centraliza a arrecadação de dízimos e doações para a igreja, cobrando taxas que variam de 3% a 5%. Denise alega que esse esquema financeiro é irregular e pretende que todos os documentos da igreja, que não tenham sua assinatura, sejam considerados inválidos em cartório.

Recentemente, a Justiça de são paulo negou o pedido de Denise para assumir a inventariança dos bens de Rina, indicando que o filho mais velho, Rinaldo Neto, ficará responsável por esse processo. O primogênito argumentou que a concessão não poderia ser feita à mãe, já que o casal estava separado e Denise havia obtido uma medida protetiva contra Rina antes de sua morte.

Esses desdobramentos complexos e delicados envolvendo a divisão de bens, disputas de liderança e alegações de irregularidades financeiras continuam a marcar a trajetória da igreja Bola de Neve, enquanto a situação jurídica de Denise e do conselho se desenrola nas instâncias judiciais. Assim, o futuro da instituição permanece incerto, enquanto os envolvidos se preparam para enfrentar os desafios legais que estão à frente.

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