Transformação Digital e Sustentabilidade

No mundo atual, discutir negócios sem abordar as novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial (IA), é praticamente impossível. Isso se aplica também aos planos de conservação ambiental e iniciativas de empreendedorismo verde. Segundo a Fundação Certi, que tem atuado na Amazônia desde 1999, a IA desempenha um papel fundamental nesse contexto. Desde 2018, o número de startups focadas na região aumentou em sete vezes, somando agora 700 iniciativas. A expectativa da fundação é que até 2027, esse número ultrapasse mil, abrangendo diversos segmentos da bioeconomia, com foco na aplicação da inteligência artificial para monitorar o manejo sustentável do açaí.

O Projeto Carbono Xingu

No coração da Amazônia, a região do Xingu destaca-se como um centro de inovação tecnológica voltada para a economia verde. Um exemplo disso é o programa Carbono Xingu, que foi lançado no primeiro semestre de 2025, resultado de uma colaboração entre a SLC Agrícola, Agro Penido, Agrorobótica e Embrapa Instrumentação. Utilizando tecnologia desenvolvida pela NASA, o projeto busca integrar a IA com a agricultura regenerativa. A meta é transformar extensas propriedades rurais em usinas de sequestro de carbono, começando com uma área de 8,9 mil hectares.

Esse sistema, criado do zero, faz uso da espectrometria a laser, a mesma tecnologia que a NASA emprega em suas missões, como a do robô Curiosity em Marte. Ele coleta dados sobre o carbono e a fertilidade do solo, permitindo a análise de mais de mil amostras diariamente. Os dados são armazenados na nuvem e processados pela inteligência artificial em questão de segundos, resultando em laudos que orientam o manejo do solo. Isso promove técnicas de plantio direto e o uso de bioinsumos, possibilitando que as propriedades rurais se tornem ativos ambientais e aumentem sua produtividade, contribuindo para a meta de zero emissões líquidas de carbono.

Inovações na Rede de Sementes do Xingu

Outra iniciativa significativa na mesma região é a Rede de Sementes do Xingu, que atua desde 2007. Essa rede é responsável pela coleta e distribuição de mais de 390 toneladas de 220 espécies até o final do ano passado, viabilizando a restauração de quase 11 mil hectares de áreas degradadas. “Existem muitos coletores que têm desenvolvido máquinas para o beneficiamento das sementes, facilitando bastante nosso trabalho. Além disso, as tecnologias de comunicação têm ampliado a visibilidade da nossa atuação, permitindo a sistematização de dados e melhor organização com os compradores”, explica Lia Rezende, coordenadora de comunicação da Rede de Sementes do Xingu.

Lia também menciona a possibilidade de uma evolução técnica na muvuca, uma estratégia de restauração florestal que envolve o uso de uma mistura diversificada de sementes para a recuperação de áreas. Essa técnica reúne várias espécies com diferentes funções ambientais, visando acelerar a restauração da biodiversidade. “Quanto mais pesquisa e experiências práticas tivermos, mais aprendemos sobre as espécies, germinação e técnicas adequadas para o território específico”, acrescenta Lia.

Desde 2019, a rede tem trabalhado em ações de restauração ecológica, ajudando a recuperar cerca de 60 hectares na região do Xingu. Até agora, a venda dessas sementes já gerou mais de R$ 8 milhões para grupos coletores, incluindo povos indígenas, agricultores familiares e comunidades urbanas tanto da Amazônia quanto do Cerrado mato-grossense.

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