Setor Agrícola em Alerta: Aumento nas Recuperações Judiciais
Até o terceiro trimestre de 2025, mais de 5 mil empresas brasileiras estavam passando por processos de recuperação judicial. Quando comparado ao mesmo período de 2024, esse número apresenta um aumento alarmante de 19,8%, refletindo uma tendência de crescimento que afeta de forma significativa o ambiente empresarial no Brasil, conforme revelam dados do Monitor RGF.
Entre os setores analisados, o comércio registra o maior número de recuperações judiciais, contabilizando 1.207 casos. Contudo, o agronegócio se destaca com um aumento de 14,2% em relação ao trimestre anterior e impressionantes 67% quando comparado ao terceiro trimestre de 2024. Os números evidenciam um cenário preocupante, onde as dificuldades financeiras se agravam de acordo com o contexto econômico.
Desafios e Vulnerabilidades do Setor Agropecuário
A análise revela que a proporção de empresas enfrentando recuperação judicial no agronegócio é alarmante. Utilizando o Índice de Recuperação Judicial (IRJ) da RGF, que mede o número de empresas em recuperação a cada mil estabelecimentos, a média no setor é de 12,63, o que evidencia a vulnerabilidade deste segmento. Ao todo, foram registrados 443 processos de recuperação judicial nas companhias do setor agropecuário.
O relatório elaborado pela RGF aponta que as empresas do agronegócio estão sob pressão devido a fatores como adversidades climáticas, oscilações nos preços e um cenário de crédito restrito. “Esses dados ressaltam a fragilidade do setor, que enfrenta um ambiente desafiador”, afirma o estudo.
Além disso, o panorama não é exclusivo do agronegócio. O setor industrial também observou um crescimento de 4,2% nas recuperações judiciais em comparação ao segundo trimestre de 2025, somando 1.168 casos. A construção, energia e saneamento acumularam 1.104 processos, com um aumento de 3,2% nesse mesmo período.
Pressão Econômica e Seus Efeitos no Agronegócio
O cenário econômico atual permanece desafiador. A combinação de juros elevados, uma disponibilidade de crédito limitada e a instabilidade global estão pressionando as empresas de todos os setores. Rodrigo Gallegos, especialista em reestruturação e sócio da RGF, comenta: “As instituições financeiras estão cada vez mais cautelosas em relação ao risco, dificultando o acesso a ‘dinheiro novo’ para reestruturações necessárias.”
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) optou por manter a taxa Selic em 15% durante sua última reunião do ano. As expectativas do mercado, conforme revelado no último Boletim Focus em 22 de dezembro, indicam que a taxa básica de juros deve atingir 12,25% em 2026. Essa drástica manutenção dos juros ao longo de 2025 visa controlar uma inflação que se espera que se feche ligeiramente acima da meta, em 4,55%.
O levantamento da RGF destaca que, neste contexto de juros elevados, o crédito corporativo se mantém restrito e seletivo. Os altos spreads, que historicamente têm sido uma preocupação, continuarão a se manter no curto prazo, especialmente com as eleições de 2026 se aproximando.
Impacto das Condições Externas e Casos Notórios
Além disso, o ambiente global em 2025 trouxe desafios adicionais para as empresas. Com o dólar estabilizado acima de R$ 5 e flutuações constantes, a pressão sobre produtos e insumos importados aumentou. Para agravar ainda mais a situação, o aumento de impostos sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, conhecido como “tarifaço”, acrescentou uma camada extra de dificuldades.
Um dos casos mais notórios que chamaram a atenção neste ano foi a recuperação judicial da Bombril, que ocorreu no início de 2025. O pedido de recuperação foi feito cerca de dois anos após a companhia ter negado essa possibilidade, quando buscou uma reestruturação financeira através da transmissão de direitos creditórios no valor de R$ 300 milhões. Em comunicado oficial, a empresa afirmou que essa decisão foi necessária para conduzir “de forma organizada, um procedimento abrangente de negociação com todos os interessados”.
