Desdobramentos nas Negociações de Paz
Nos últimos dias, as falas do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sobre a possibilidade de ceder territórios à Rússia geraram debates acalorados. Dias antes de sua reunião com Vladimir Putin no Alasca, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, mencionou a ideia de “trocas de terras” como uma solução para a paz, o que deixou os ucranianos perplexos. Eles se perguntam: que terras estariam em jogo? A Ucrânia receberia partes da Rússia em troca da entrega de áreas ocupadas?
À medida que Zelensky se prepara para sua visita a Washington na próxima segunda-feira, a expectativa é que Trump pressione o líder ucraniano a considerar a entrega das regiões de Donetsk e Luhansk, agora sob controle parcial russo, em troca de um congelamento das hostilidades por parte da Rússia. Essa proposta, já mencionada anteriormente por Putin, está formando um cenário complexo de negociações.
No último domingo (17/8), Zelensky reconheceu que parte do território ucraniano ocupado poderia ser utilizada como moeda de troca em um possível acordo de paz. “Precisamos de negociações reais, o que significa que devemos começar onde está a linha de frente atualmente”, declarou após um encontro em Bruxelas com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Essa posição marca uma mudança significativa na postura do presidente.
Desafios e Consequências da Cessão de Território
Atualmente, a região de Luhansk está quase totalmente sob controle russo, enquanto a Ucrânia mantém cerca de 30% do território de Donetsk, que inclui cidades estratégicas e fortificações, custando, até agora, inúmeras vidas. As áreas do Donbas são ricas em recursos minerais e possuem grande importância industrial, tornando uma possível entrega a Putin uma questão de grande peso, segundo o historiador Yaroslav Hrytsak. Ele ressalta: “Este é território ucraniano, e o povo dessas regiões teve um papel fundamental na construção da identidade nacional”.
Desde o início da agressão russa em 2014, mais de 1,5 milhão de ucranianos deixaram o Donbas. Atualmente, mais de 3 milhões vivem sob ocupação russa, enquanto cerca de 300 mil permanecem nas áreas ainda sob controle ucraniano. A vida nas proximidades da linha de frente é extremamente difícil; Andriy Borylo, capelão militar em Sloviansk, descreve a situação: “É uma luta constante. Às vezes, sinto que estamos abandonados”. Ele expressa sua indignação: “Não culpo Zelensky, mas Trump é quem está tomando tudo de nós, e isso é traição”.
O Sentimento Popular e a Realidade da Guerra
Até agora, Zelensky tem se manifestado contra a entrega do Donbas como condição para a paz. No entanto, a confiança na Rússia em cumprir um acordo é baixa, levando cerca de 75% dos ucranianos a rejeitar formalmente qualquer cedência territorial, conforme pesquisas do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev.
A sociedade ucraniana, exaurida pelo conflito, clama por um fim ao sofrimento. O trabalhador de resgate Yevhen Tkachov expressa sua visão: “A vida é mais valiosa que o território. Não posso aceitar sacrificar vidas por alguns quilômetros quadrados”. A dicotomia entre a entrega de terras e a preservação de vidas mantém Zelensky em uma posição difícil, segundo Volodymyr Ariev, deputado do partido Solidariedade Europeia.
Ariev alerta que a cedência de território poderia ser vista como uma violação da constituição. No entanto, também não há clareza em como um suposto acordo poderia ser formalizado. Para isso, seria necessária a aprovação do parlamento e um referendo. As incertezas sobre o processo contribuem para a complexidade da situação.
A Visita a Washington e as Novas Expectativas
Na segunda-feira (18/8), Zelensky se encontrará com Trump em Washington, em sua primeira visita após um confronto tumultuado no Salão Oval. Recentemente, Trump parece ter mudado sua perspectiva sobre garantir segurança à Ucrânia, o que pode ser uma luz no fim do túnel para muitos ucranianos. As garantias de segurança são vistas como essenciais para qualquer acordo territorial, segundo Anton Grushchetsky, diretor do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev.
Num tom pragmático, Tkachov sugere que a entrega do Donbas só seria válida se garantias concretas fossem oferecidas: “Se houver proteção real, talvez eu possa considerar a entrega”. No entanto, apesar das conversas sobre paz, é crucial lembrar das vidas que foram tocadas pela guerra nos últimos anos. O Donbas sempre foi uma terra de diversidade cultural e humana, e qualquer negociação deve levar em conta a profunda conexão das pessoas com suas terras.