O Escândalo que Abalou o Corinthians

O escândalo relacionado ao desvio de verbas no contrato de patrocínio firmado entre o Corinthians e a empresa de apostas Vai de Bet veio à tona em maio do último ano, quando uma das laranjas envolvidas na transação foi descoberta. Desde então, as investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) revelaram detalhes alarmantes sobre como milhões foram desviados do clube.

No dia 10 de julho, o MPSP denunciou o presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, e outros ex-dirigentes do clube, incluindo Marcelo Mariano dos Santos e Sérgio Lara Muzel de Moura, além do intermediário do contrato, Alex Fernando Cassundé, e os sócios de empresas suspeitas, Victor Henrique de Oliveira Shimada e Ulisses de Souza Jorge. A denúncia, apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), revelou que o grupo pode ter causado um prejuízo superior a R$ 40 milhões ao Corinthians.

Como Tudo Começou: O Contrato Bilionário

A história começou em 25 de novembro de 2023, quando Augusto Melo foi eleito presidente do Corinthians para o triênio de 2024 a 2026. No dia 2 de janeiro de 2024, Melo, junto com os diretores Marcelo Mariano e Sérgio de Moura, consolidou sua proposta de uma gestão transformadora. Dois dias após a posse, foi anunciado um contrato de patrocínio com a Vai de Bet no valor de R$ 360 milhões, considerado o maior da história do futebol brasileiro, prometendo uma média mensal de R$ 10 milhões.

Entretanto, a denúncia do MPSP revelou que os dirigentes esconderam a presença de um intermediário no acordo, aparentemente fazendo com que o dinheiro do patrocínio parecesse ser, na totalidade, destinado ao clube. A empresa Rede Social Media Design, que deveria atuar como intermediária, foi identificada como uma fachada que, segundo as investigações, recebeu 7% do valor total do contrato, acumulando uma cifra impressionante de R$ 25,2 milhões ao longo do tempo.

Intermediações Suspeitas e Modificações Estranhas

A Rede Social Media Design foi fundada em janeiro de 2021, com um capital social de apenas R$ 10 mil e sem experiência no setor de intermediações. A relação entre Cassundé e Melo remonta a 2023, durante a campanha eleitoral, e envolvia contatos pessoais através de Sérgio Moura, que se tornaria Superintendente de Marketing do clube. Apenas duas semanas após a assinatura do contrato, a empresa alterou seu objeto social para incorporar a atividade de intermediação, o que chamou a atenção da promotoria, que considera a mudança uma tentativa de mascarar a verdadeira natureza das transações.

O documento da promotoria critica a falta de experiência de Cassundé, que admitiu não ter conhecimento sobre intermediação ou apostas esportivas. Ele chegou a mencionar que buscou informações sobre o setor na internet, evidenciando a fragilidade de sua atuação como intermediário.

O Verdadeiro Intermediário e o Desvio de Dinheiro

Investigações revelaram que o verdadeiro intermediário do contrato era Antônio Pereira dos Santos, conhecido como Toninho Duettos, que possuía conhecimentos e contatos relevantes dentro do club. Através de reuniões entre os representantes da Vai de Bet e dirigentes do Corinthians, o esquema para desvio de dinheiro foi delineado.

Entre março de 2024, Melo, Mariano e Moura desviaram R$ 1,4 milhão do clube, utilizando o falso intermediário como fachada. Os pagamentos foram autorizados enquanto o diretor financeiro do Corinthians estava fora, evidenciando uma ação coordenada para subtrair recursos.

A Rede de Lavagem de Dinheiro

Depois do desvio inicial, uma série de transferências financeiras entre empresas de fachada foi elaborada para ocultar a origem do dinheiro ilícito. As autoridades alegam que o grupo utilizou táticas de lavagem de dinheiro para distanciar as quantias dos crimes. Cassundé e outros sócios realizaram transferências que culminaram em movimentações para contas de empresas laranjas, como a Neoway Soluções Integradas e a Wave Intermediação.

A investigação constatou que as sócias formais dessas empresas não tinham a capacidade financeira adequada, levantando suspeitas sobre a veracidade das operações financeiras realizadas.

Consequências e Reações

O escândalo culminou no afastamento de Augusto Melo do cargo de presidente do Corinthians, após decisão do Conselho Deliberativo do clube, que aprovou seu impeachment. A defesa de Melo declarou que a denúncia carece de clareza e objetividade, enquanto a defesa de Ulisses de Souza Jorge, sócio da UJ Football Talent, se disse estarrecida com as acusações. Uma nova votação sobre o afastamento definitivo de Melo ocorrerá em agosto, enquanto a investigação prossegue para determinar todas as responsabilidades no caso.

O MPSP solicitou que os denunciados paguem o valor dos danos causados ao Corinthians, além do sequestro de bens correspondentes. A história do patrocínio com a Vai de Bet se tornou um marco de corrupção e desvio de verbas no futebol brasileiro, levantando questões sobre a necessidade de uma maior fiscalização em contratos esportivos.

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