A atual realidade do mercado de saúde no Brasil é marcada por setores que já atingiram um notável nível de maturidade e consolidação. Áreas como diagnóstico por imagem, laboratórios, diálise e oftalmologia, juntamente com hospitais gerais, já foram amplamente exploradas por grandes empresas, resultando em uma escassez de oportunidades para novos entrantes. Essa situação leva a uma fragmentação dos negócios, que, apesar de ser interessante para estratégias de consolidação de mercado, ainda enfrenta desafios significativos. Idealmente, essas consolidações podem ser impulsionadas por investimentos de private equity, venture capital ou investidores estratégicos, tanto nacionais quanto internacionais.
Entretanto, há um nicho que ainda se encontra relativamente inexplorado e que representa um vasto oceano de oportunidades para aqueles dispostos a inovar. A cirurgia ambulatorial, ou cirurgia-dia, surge como um dos pilares mais dinâmicos do sistema de saúde global. Com seu crescimento acentuado nos últimos anos, esse modelo de atendimento se destaca pela eficiência operacional, redução de custos e aprimoramento na experiência do paciente. A crescente movimentação em torno da consolidação do mercado de Centros Cirúrgicos Ambulatoriais (CCAs) no exterior evidencia o potencial promissor desse setor, apontando para uma necessidade urgente de modelos de saúde mais sustentáveis e custo-efetivos, que podem facilmente ser adotados pelo Brasil.
Ao analisar a situação atual do mercado brasileiro, observa-se que há poucos ativos mapeados, um cenário que se assemelha ao conceito de “greenfield”, que denota um estágio inicial com pouco histórico de desempenho. No entanto, essa realidade está se transformando e estamos adentrando em uma fase que se pode chamar de “grey field”, ou zona cinzenta, onde existe um certo nível de maturidade, com dados de desempenho começando a se concretizar em várias operações. Este setor, em evolução, tem um enorme potencial de desenvolvimento e atração para investidores, o que está se tornando cada vez mais evidente à medida que o cenário evolui.
A indústria de Centros Cirúrgicos Ambulatoriais nos Estados Unidos, por exemplo, passou por um crescimento impressionante nos últimos cinco anos. Redes como a United Surgical Partners International (USPI), que controla uma parcela significativa do mercado americano de CCAs, demonstram como a consolidação pode acontecer com eficácia. Com um portfólio robusto de centros cirúrgicos e hospitais, a USPI reflete as tendências de mercado e consolidações que atualmente moldam o setor de saúde nos EUA. A atenção crescente em direção aos modelos ambulatoriais oferece um indicativo claro do que pode se desenrolar no mercado brasileiro à medida que a necessidade de soluções de saúde eficientes se intensifica.
Os Centros Cirúrgicos Ambulatoriais possuem uma série de vantagens em comparação aos hospitais tradicionais, incluindo menores custos operacionais que se traduzem em preços mais acessíveis para ambos, pagadores e pacientes. Com foco em procedimentos ambulatoriais, esses centros permitem um fluxo de trabalho mais otimizado e menos burocrático, resultando em menor tempo de espera e uma experiência mais satisfatória para os pacientes, cirurgiões e equipes assistenciais. Além da redução do risco de infecções, devido ao controle rigoroso sobre os pacientes tratados, os CCAs proporcionam um ambiente seguro e que gera melhores resultados para os indivíduos.
Adicionalmente, o atendimento centrado no paciente representa uma das mais significativas vantagens desse modelo. Em centros menores e menos complexos, os pacientes geralmente recebem mais atenção, que resulta em uma percepção de cuidado de maior qualidade e índices mais elevados de satisfação, especialmente quando comparados a hospitais convencionais. O futuro dos CCAs é promissor, especialmente com o crescente reconhecimento da eficácia de procedimentos ambulatoriais por parte dos serviços de saúde e seguradoras, que cada vez mais favorecem modelos que promovem a eficiência e a redução de custos.
Para o Brasil, a adoção e adaptação de modelos de CCAs, inspirados pela bem-sucedida experiência dos EUA, pode representar um passo crucial na reestruturação do sistema de saúde. Ambos os países enfrentam desafios similares, como a fragmentação dos serviços e a necessidade de atender a uma demanda crescente. Com a adoção de estratégias que priorizem a eficiência e a segurança, aliadas a investimentos em infraestrutura e reformas regulatórias, o Brasil pode melhorar significativamente o acesso aos cuidados cirúrgicos e a qualidade do atendimento.
A SOBRACAM, atuando em colaboração com entidades internacionais, está comprometida em acelerar o desenvolvimento do setor de cirurgia ambulatorial no Brasil. Este esforço é vital para fomentar o interesse de investidores e promover um futuro em que a cirurgia ambulatorial se torne uma alternativa viável e amplamente utilizada no sistema de saúde brasileiro. A adequação desse modelo não só promete uma maior acessibilidade, reduzindo custos e mantendo um padrão elevado de cuidado, mas também reflete uma nova era para a saúde no país, onde a inovação e a eficiência podem levar a um sistema mais robusto e quente para todos os envolvidos. A implementação de CCAs no Brasil pode, portanto, ser uma solução adequada para atender as crescentes demandas e melhorar a qualidade dos serviços prestados à população.