Uma Nova Abordagem nas Relações Comerciais
Após meses de tensões comerciais, a China, antes vista como pária pela administração Trump, emerge agora como um foco de esforços para restabelecer laços e evitar uma nova escalada tarifária. Em abril, Donald Trump descreveu a China como “a maior ameaça à América”, acusando o país de ter prejudicado a economia americana por décadas, o que resultou na imposição de tarifas de até 145% sobre produtos chineses.
Entretanto, a situação mudou drasticamente. Recentemente, Trump estendeu uma suspensão em tarifas e passou a elogiar o presidente Xi Jinping como “um grande líder”. A possibilidade de uma cúpula entre os líderes de EUA e China também foi aventada para o segundo semestre, enquanto as tarifas sobre produtos chineses foram reduzidas para 30%, enquanto taxas mais pesadas foram direcionadas a outros países como Índia e Brasil, que enfrentam tarifas de 50%.
Dentre os motivos que podem ter levado Trump a adotar essa nova postura, está a necessidade de evitar um aumento tarifário em um momento em que os varejistas americanos se preparam para a temporada de compras de fim de ano. Além disso, o presidente estaria buscando tempo para viabilizar negociações em torno de um acordo comercial mais abrangente, que abrangesse setores como tecnologia, energia e minerais raros.
O Controle Chinês sobre Recursos Estratégicos
Um ponto crucial desta relação envolve o domínio chinês sobre minerais de terras raras, essenciais para a fabricação de uma série de produtos, incluindo veículos elétricos e sistemas de defesa. A China, que responde por cerca de 60% da produção global e 90% do refino desses materiais, está em uma posição de destaque em meio ao impasse comercial.
Após a imposição de tarifas em abril, Pequim reagiu com controles de exportação sobre sete minerais de terras raras, afetando seriamente indústrias americanas, incluindo as montadoras. Essa dinâmica tem sido um fator decisivo nas negociações, já que as indústrias dos EUA dependem fortemente da oferta chinesa. Enquanto isso, Washington tem pressionado a China a restringir suas importações de petróleo russo, ameaçando com novas sanções caso os volumes aumentem.
Além disso, Trump está tentando convencê-los a aumentar suas compras de soja, o que significaria um alívio para os agricultores americanos e ajudaria a mitigar o grande déficit comercial com a China, que foi de aproximadamente 295,5 bilhões de dólares no ano passado. A China é a maior importadora mundial de soja, representando mais de 60% da demanda global.
Desafios Internos e Geopolíticos de Trump
A economista Alicia Garcia-Herrero, do think tank Bruegel, sugere que os desafios enfrentados por Trump em sua política interna e os problemas geopolíticos, incluindo negociações de paz com a Rússia, são fatores que o forçam a flexibilizar a postura em relação à China. “Trump já tem problemas demais para resolver e não tem escolha a não ser oferecer à China mais oportunidades do que a outros países”, afirmou.
Com a prorrogação da trégua tarifária até novembro, as negociações entre as duas potências poderão focar em questões mais delicadas. Ambos os lados reconhecem que a re-imposição de tarifas elevadas, como as anteriores de 145%, seria economicamente prejudicial.
A Índia e o Brasil na Mira de Novas tarifas
Enquanto a China se beneficia desse tempo extra, a Índia, que era considerada uma parceira, se tornou alvo de tarifas de até 50%. De acordo com Fatas, da escola de negócios Insead, a Índia não possui o mesmo peso econômico da China e, portanto, enfrenta um tratamento mais severo. Já o Brasil, que havia sido poupado anteriormente, agora está sujeito a tarifas elevadas em produtos como café e carne bovina, com a nova alíquota impactando significativamente suas exportações.
Apesar de sua nova abordagem com a China, Trump mantém pressões sobre o país, impondo taxas sobre exportações direcionadas a evitar tarifas diretas e redirecionando mercadorias por intermediários no sudeste asiático. Isso levou à criação de tarifas adicionais destinadas a países que facilitam essas práticas.
À medida que as negociações se desenrolam, Garcia-Herrero prevê uma modificação nas tarifas, que devem beneficiar empresas americanas e ao mesmo tempo afastar aliados importantes. O futuro das relações comerciais entre EUA e China permanece incerto, mas a busca por um equilíbrio comercial parece ser um objetivo comum.