Recentemente, o que parece ser a segunda tentativa de assassinato do ex-presidente Donald trump em um curto intervalo de dois meses suscita uma série de inquietações sobre as implicações eleitorais desse episódio, a segurança em torno do candidato e o clima de hostilidade que permeia o cenário político americano. Além disso, a questão do acesso a armamentos de alto calibre por indivíduos com histórico de violência se revela particularmente alarmante, principalmente diante da crescente desconexão de certas pessoas com a realidade.
A ameaça representada por Ryan Wesley Routh foi classificada pelo FBI como “séria”. O indivíduo passou mais de 12 horas nas proximidades de um campo de golfe em que trump jogava, portando um fuzil automático equipado com mira e suprimentos. Felizmente, segundo informações do Serviço Secreto, Routh não conseguiu avistar o ex-presidente, o que pode ter evitado uma tragédia maior. Agentes do Serviço Secreto avistaram sua arma escondida entre arbustos e, ao abrirem fogo, forçaram Routh a fugir sem reação imediata, embora ele tenha sido capturado posteriormente.
Em entrevista à Fox News Digital, trump fez acusações contundentes contra o presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris, atribuindo a responsabilidade pelas tentativas de assassinato à retórica deles, que ele considera incitadora. Para ele, o suspeito agiu influenciado pelas palavras de Biden e Harris, que segundo trump, “são os que estão destruindo o país de dentro para fora”, enquanto ele se posiciona como alguém que possui a solução para os problemas da nação.
Contrariando a postura de trump, Biden e Harris reagiram com indignação à tentativa de ato violento. O presidente orientou que o Serviço Secreto proporcione segurança total a trump e solicitou ao congresso a aprovação de verbas adicionais para a agência responsável pela proteção. Por sua vez, Harris expressou alívio pela segurança do ex-presidente, afirmando que a violência não deve ter lugar no contexto americano.
A primeira tentativa de assassinato, ocorrida no dia 13 de julho, foi ainda mais chocante, já que trump foi atingido de raspão na orelha por uma bala. Curiosamente, ele pediu união nacional após o ocorrido. Uma semana depois, em um discurso empolgante durante a Convenção Republicana, o ex-presidente mobilizou seu eleitorado, embora esse suporte não seja suficiente para assegurar vitória em uma eleição. Segundo pesquisas, trump ainda enfrenta dificuldades para conquistar a confiança dos moderados essenciais para triunfar, principalmente nos estados-pêndulo decisivos.
É possível que a perda do status de favorito diante de Biden explique em parte a reação mais explosiva de trump após este novo atentado. Sua postura agressiva, paradoxalmente, pode afastar os moderados, que não se identificam com seu perfil belicoso. Embora sua base fiel aplauda esse comportamento, a incapacidade de trump de adotar uma postura mais conciliatória resulta em um teto em sua aprovação, que se estabiliza em torno de 45% do eleitorado. O ex-presidente ainda manifestou, em tom preocupante, que a não vitória poderia resultar em um “banho de sangue”, além de prometer que não aceitaria uma possível derrota.
Os pronunciamentos de Biden e outros líderes democratas reforçam a imagem de trump como uma ameaça à democracia americana, especialmente após os eventos de 6 de janeiro de 2021, quando seus apoiadores invadiram o Capitólio. Esse ambiente de tensão é exacerbado por aliados de trump, como elon musk, que, em uma de suas postagens, insinuou que não havia quem quisesse assassinar Biden ou Harris, gerando reações negativas de ambos os lados políticos.
O suspeito da nova tentativa de atentado, Ryan Routh, compartilha algumas semelhanças com Thomas Matthew Crooks, autor do atentado anterior, já que ambos tinham laços com o Partido Republicano, mas acabaram se sentindo desiludidos em relação a trump. Routh havia expressado seu descontentamento com o ex-presidente e se tornou ativo em causas ligadas à ajuda à Ucrânia após a invasão russa. Sua história traça um arco de um cidadão comum que se torna obcecado por uma causa, culminando em tentativas de autovitimização e justificação de sua conduta extremista.
O acesso de indivíduos como Routh a armamentos automáticos revela falhas alarmantes no sistema de controle de armas dos Estados Unidos. Em um paradoxo, enquanto trump e os republicanos frequentemente bloqueiam legislações que visam a regulamentação mais severa sobre a posse de armas, situações como a vivenciada por Routh expõem a vulnerabilidade de um sistema que ainda permite que pessoas com passado criminal consigam obter armamentos perigosos. Esse cenário enfatiza a urgência de discussões sobre segurança, violência política e a necessidade de um diálogo construtivo para abordar os desafios que afetam a democracia americana.