Desumanização nos Cuidados Psiquiátricos
Os alarmantes relatos sobre as práticas da Clínica Recanto, situada em Brazlândia, revitalizam o debate sobre a luta antimanicomial no Brasil e evidenciam como essas abordagens prejudicam a saúde mental dos pacientes. Entre as práticas contestadas, o chamado ‘acolhimento’ foi descrito como uma sala de castigo, além do uso excessivo e indiscriminado de medicações, que caracterizam a clínica como uma instituição total. Esse termo refere-se a ambientes onde prevalece uma hierarquia rígida, semelhante a prisões, conventos e manicômios, onde a obediência é imposta.
Em declaração ao nosso site, Tiago Blanco, psiquiatra e conselheiro ouvidor do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), destacou que a Clínica Recanto se encaixa nesse modelo devido à forma como os tratamentos são conduzidos. ‘Nos espaços de poder desigual, quem ocupa a posição subalterna é privado de direitos e se torna alvo de punições severas, as quais são usadas como principal método de controle sobre os pacientes’, afirmou Blanco.
Ele ainda ressaltou que essa metodologia de tratamento gera um quadro de ‘desumanização do sujeito’, o que impede a reabilitação do paciente. Tal abordagem é contrária aos princípios da reforma psiquiátrica, que busca resgatar a funcionalidade e dignidade do indivíduo.