Júri em Miami Responsabiliza Tesla por Acidente Fatal
Na última sexta-feira, 1º de agosto, um júri em Miami, Flórida, decidiu que a Tesla deverá indenizar em 243 milhões de dólares (aproximadamente R$ 1,3 bilhão) a família de uma mulher que faleceu em um acidente envolvendo um de seus veículos. O trágico incidente também resultou em ferimentos graves para o namorado da vítima, o que pode abrir um precedente para novos processos judiciais contra a fabricante de carros elétricos.
Este caso é especialmente significativo, pois representa a primeira condenação da Tesla relacionada ao seu sistema de direção autônoma, conhecido como Autopilot. Anteriormente, os processos relacionados a essa tecnologia tinham sido resolvidos fora dos tribunais ou arquivados sem julgamento.
Acidente em Florida Keys
O incidente que levou ao veredito ocorreu em 2019, no arquipélago de Florida Keys. Um motorista do modelo Tesla Model S não conseguiu frear ao atravessar um cruzamento e colidiu com um casal que estava ao lado de seu Chevrolet Tahoe estacionado. A força do impacto foi tão intensa que Naibel Benavides Leon, de 22 anos, foi arremessada a mais de 20 metros de distância, enquanto seu namorado, Dillion Angulo, sofreu fraturas e um trauma craniano, consequências com as quais ainda lida.
O júri atribuiu parcial responsabilidade à Tesla pela morte, considerando que a tecnologia Autopilot falhou no momento do acidente. De acordo com Brett Schreiber, advogado da acusação, “a Tesla desenvolveu o Autopilot para uso em rodovias com acesso controlado, mas decidiu não restringir seu uso em outros tipos de vias, mesmo quando Elon Musk afirmava que o sistema dirigia melhor do que os humanos”.
Distração do Motorista e Falhas do Sistema
O condutor do Tesla alegou que se distraiu ao tentar recuperar seu celular, que havia caído no chão do veículo. Ele afirmou não ter recebido qualquer alerta quando o carro ignorou uma placa de “pare” e um semáforo vermelho, colidindo a cerca de 100 km/h.
A corte argumentou que o sistema Autopilot deveria ter sido desativado automaticamente assim que o motorista começou a se distrair. Anteriormente, a Tesla já havia enfrentado acusações por supostamente atrasar a entrega de informações essenciais em investigações de acidentes, algo que a empresa nega veementemente.
Posicionamento da Tesla
Por sua vez, a defesa da Tesla defendeu que a culpa pelo acidente recai exclusivamente sobre o motorista, anunciando planos de apelar da decisão. “Nenhum carro em 2019, e nenhum carro atualmente, poderia ter evitado esse acidente”, argumentou a empresa. “A questão nunca foi sobre o Autopilot; trata-se de uma narrativa criada pelos advogados das vítimas que tentam culpar o veículo, quando o responsável sempre foi o motorista.”
A Tesla ainda ressaltou que os motoristas que utilizam o Autopilot precisam manter a atenção total na direção e as mãos no volante, destacando que o sistema é apenas uma assistência e não torna o carro totalmente autônomo. Em seu site, a empresa esclarece que “o Autopilot é um sistema de assistência ao motorista que deve ser utilizado apenas por motoristas que estejam completamente atentos”.
O advogado das vítimas, Brett Schreiber, criticou o uso do termo “Autopilot” por parte da Tesla, afirmando que isso pode enganar os motoristas sobre as capacidades reais do sistema. Para ele, a empresa deveria desativar o modo Autopilot automaticamente caso sinais de distração sejam detectados e não permitir seu uso em estradas menores. “Eu confiei demais na tecnologia”, admitiu o motorista no tribunal. “Achei que, se o carro detectasse algo à frente, ele me alertaria e frearia.”
“Palavras têm peso”, finalizou Schreiber, referindo-se à responsabilidade da Tesla em comunicar de forma clara as limitações do seu sistema. “Se alguém está jogando com a terminologia, está agindo de forma irresponsável com as informações que apresentam.”