negociações Através de tarifas: A Estratégia de Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou uma série de tarifas que devem ser implementadas a partir de 1º de agosto. Até agora, foram enviadas 25 cartas que substituem as tarifas anunciadas anteriormente durante o ‘Liberation Day’. No cenário inicial, a maioria dos países da América Latina recebeu uma tarifa mínima de 10%, com exceções como Guiana (38%), Nicarágua (18%) e Venezuela (15%).
O México, em uma manobra estratégica, conseguiu suspender as tarifas de 25% que Trump havia prometido no dia de sua posse. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, manifestou prontidão para retaliar as tarifas, mas optou por manter as negociações com os Estados Unidos. Este posicionamento teve impacto positivo na aprovação de Sheinbaum, que atingiu 80% em fevereiro, além de lhe render elogios de Trump. Em um post na Truth Social, Trump declarou: ‘Fiz essa acomodação em respeito à presidente Sheinbaum’.
Para garantir a suspensão das tarifas, Sheinbaum comprometeu-se a enviar 10 mil soldados da Guarda Nacional para a fronteira e colaborar com os EUA na contenção de imigrantes e tráfico de drogas que entram no território norte-americano. Embora as tarifas tenham sido postergadas, elas acabaram sendo aplicadas a produtos não incluídos no USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá), que substituiu o antigo Nafta.
Porém, as negociações não foram lineares. O México foi pego de surpresa por uma nova carta que anunciava tarifas de 30%. Segundo o ministro da economia, Marcelo Ebrard, a decisão foi comunicada enquanto representantes mexicanos estavam em Washington discutindo o impasse comercial. Em sua mensagem na Truth Social, Trump elogiou o esforço do México em proteger as fronteiras, mas exigiu ações mais rigorosas contra os cartéis que operam na região.
Sheinbaum, firme em sua posição, reiterou que o México está fazendo sua parte e exigiu ação semelhante dos EUA. ‘Nós fazemos a nossa parte e eles também precisam fazer a deles’, afirmou, ressaltando questões como o controle do fluxo de armas dos EUA para o México e a responsabilidade sobre o tráfico de drogas nos Estados Unidos.
O Desafio Canadense
Mais ao norte, o Canadá enfrentou ameaças comerciais semelhantes com tarifas de 25%, anunciadas na posse de Trump, sob a justificativa de combater o tráfico de fentanil, e tarifas de 35% citadas em uma carta na Truth Social. Contudo, até o presente momento, os Estados Unidos aplicaram uma taxa de apenas 10% sobre o setor energético canadense.
Para líderes do Canadá e do México, a situação se torna uma questão de estratégia: é essencial manter uma postura pragmática nas negociações enquanto se opõem ao autoritarismo de Trump. O cientista político Maurício Santoro observou que o clima de ameaças gerou um forte sentimento nacionalista no Canadá, mudando o cenário político local e contribuindo para a reeleição do Partido Liberal.
Mark Carney, novo primeiro-ministro canadense, se posicionou contra as ameaças de Trump e fez o possível para negociar um acordo comercial. Contudo, a publicação da tarifa de 35% por Trump, novamente ligada ao tráfico de fentanil, trouxe à tona desafios adicionais, uma vez que as apreensões da droga na fronteira são minúsculas em relação à totalidade do comércio entre os países.
Colômbia: A Resposta de Petro
A Colômbia também entrou no radar das tarifas americanas. O presidente Gustavo Petro teve um embate público com Trump ao recusar receber voos de imigrantes deportados. Trump anunciou tarifas de 25%, que poderiam escalar até 50%, sobre produtos colombianos. Petro, inicialmente, ameaçou responder com tarifas sobre importações americanas, mas acabou recuando, principalmente devido à baixa aprovação de seu governo nas pesquisas.
O Cenário Brasileiro
No que diz respeito ao Brasil, especialistas indicam que as negociações são mais complicadas. Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, citando a situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro e as decisões do Supremo Tribunal Federal relacionadas às redes sociais. Santoro destaca que Trump se opõe ao processo contra Bolsonaro, que é independente do governo brasileiro. Em relação aos três principais pontos de tensão com Trump, como o processo de Bolsonaro e o alinhamento brasileiro com o Brics, esse último é um pilar da política externa do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O professor Vinícius Vieira, da FGV, ressalta que a tarifa imposta ao Brasil é sem precedentes, afirmando que a demanda de Trump é impossível de atender. Ele alerta que o Brasil deve adotar uma postura técnica e cuidadosa nas negociações, considerando que a natureza política dessa medida dificulta um acordo. ‘Foi claramente uma ação política, já que o Brasil vinha buscando negociar as tarifas‘, conclui Vieira.