Lealdade em Questão
O ingresso de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na política se deu sob a tutoria de Jair Bolsonaro (PL), mas sua lealdade ao bolsonarismo tem sido constantemente testada desde sua eleição como governador de São Paulo em outubro de 2022. As frequentes discordâncias entre o ex-ministro da Infraestrutura e seu mentor político evidenciam tensionamentos notáveis, que vão do aumento das tarifas norte-americanas à defesa das urnas eletrônicas.
Recentemente, Tarcísio demonstrou uma mudança em sua postura em relação às tarifas de 50% impostas por Donald Trump a produtos brasileiros. Ao invés de apoiar a pressão fiscal promovida pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), ele optou por uma abordagem negociadora. Eduardo, por sua vez, não hesitou em criticar o governador, acusando-o de desrespeito e de se submeter às elites. Por trás das câmeras, Tarcísio se afastou da ideia de oferecer um cargo a Eduardo, cuja licença de 120 dias expirou no último domingo (20/7).
Esses conflitos tendem a intensificar-se à medida que as eleições de 2026 se aproximam, e a disputa pelo apoio de Bolsonaro e da direita se acirra. Apesar de estar inelegível, Bolsonaro resiste à ideia de indicar um sucessor fora de sua família e mantém suas aspirações políticas. Tarcísio, por sua vez, expressa sua intenção de buscar a reeleição, mas seu discurso tem se tornado cada vez mais nacional, mirando em Lula.
Desafios com a Tributação e a Indústria
A situação das tarifas impostas pelos EUA colocou Tarcísio em um dilema complicado. Na correspondência enviada ao Brasil, Trump usou a ocasião para criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e alegar que Bolsonaro é alvo de uma “caça às bruxas”. Em resposta, Tarcísio atribuiu a culpa à administração de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma atitude que não foi bem vista nem pelo mercado nem pela indústria paulista, que seria a mais afetada. A interpretação geral foi de que ele estava politizando um tema econômico sensível.
Buscando uma saída, o governador procurou negociações e se reuniu com Gabriel Escobar, representante da embaixada americana. Esse movimento não foi bem recebido por Eduardo Bolsonaro, que viu isso como um desrespeito à sua articulação com o governo dos EUA. Em uma entrevista ao Metrópoles, ele criticou Tarcísio, sugerindo que o governador estava tentando “usar outros canais” em vez de dialogar diretamente com o presidente Bolsonaro.
Desentendimentos e Alianças
As divergências não são novas. Em julho de 2023, Tarcísio já havia se reunido com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e se manifestou favorável a 95% da proposta da Reforma Tributária. Essa declaração provocou uma onda de críticas de aliados de Bolsonaro. Jair Bolsonaro fez várias postagens contra a reforma, enquanto Eduardo disparou no X (ex-Twitter) que “não sou 95%, sou 100% contra reforma tributária”.
Além disso, a relação de Tarcísio com o STF e o sistema eleitoral brasileiro também gera descontentamento entre os bolsonaristas. O governador tem mantido uma postura conciliadora, evitando críticas diretas aos ministros do STF e até mesmo elogiando figuras como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Após sua vitória em 2022, ele afirmou que não se considerava um “bolsonarista raiz” e que mantinha diálogos com o STF.
Encontros com Lula e Críticas Internas
Outro ponto de tensão se refere aos encontros de Tarcísio com o presidente Lula. O governador se reuniu com o petista em várias ocasiões e participou de um evento ao lado dele para a celebração de um projeto de infraestrutura em fevereiro de 2023. Essa aproximação desagradou Jair Bolsonaro, que vê Tarcísio como excessivamente gentil com o governo petista. Apenas recentemente, Tarcísio passou a criticar o governo Lula de maneira mais incisiva, abandonando a neutralidade.
Eduardo Bolsonaro não hesitou em rotular o partido de Tarcísio como um “partido de esquerda”, e o líder do Republicanos, Marcos Pereira, tem sido alvo de críticas por sua postura em relação ao governo. Embora a especulação sobre a mudança de Tarcísio para o Partido Liberal tenha surgido, sua conexão com o Republicanos permanece intacta, mesmo com as pressões internas.
À medida que se intensificam os desafios e tensões, a habilidade de Tarcísio em equilibrar sua posição com o bolsonarismo e suas ambições políticas pessoais será fundamental para seu futuro e para a política de São Paulo nos próximos anos.