Desafios da Cultura de Trabalho Intensa
Nos últimos tempos, várias startups de inteligência artificial têm adotado o modelo de trabalho intensivo conhecido como “9-9-6”, que consiste em jornadas das 9h às 21h, seis dias por semana. Esse padrão, comumente associado a empresas asiáticas, é criticado por especialistas que alertam sobre os riscos que impõe aos colaboradores, como estresse crônico e burnout. Sem o devido tratamento, essas questões podem evoluir para o karoshi, termo japonês que se refere à morte por excesso de trabalho.
Frente a essa realidade, muitos jovens chineses criaram um movimento denominado tang ping, que pode ser traduzido como “deitar e relaxar”. Esse conceito visa incentivar a busca por um equilíbrio entre vida e trabalho, promovendo a ideia de que descansar é tão importante quanto trabalhar duro.
Referências de Líderes Corporativos
Embora o modelo 9-9-6 seja criticado, alguns dos mais influentes líderes do setor nos Estados Unidos também se dedicam a longas jornadas de trabalho. Marissa Mayer, ex-executiva do Google, teria chegado a trabalhar até 130 horas por semana. Tim Cook, da Apple, é conhecido por responder e-mails a partir das 4h30 da manhã, enquanto Elon Musk, CEO da Tesla, mantém uma rotina de 120 horas semanais. Jack Ma, fundador do Alibaba, é outro defensor desse regime de trabalho intenso.
Produtividade e Tempo de Trabalho
Contrariando a crença comum de que mais horas no escritório aumentam a produtividade, a psicóloga organizacional Caitlin Collins, diretora de estratégia na Betterworks, argumenta que jornadas excessivas podem ser prejudiciais. Segundo Collins, “a ideia de que trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana, impulsiona a inovação é profundamente equivocada”. Ela reforça que pesquisas demonstram que o excesso de trabalho está diretamente relacionado ao burnout, fadiga cognitiva e desengajamento, elementos críticos para a criatividade e foco necessários em empresas de IA.
Um estudo realizado no Reino Unido, por exemplo, revelou que funcionários que trabalham mais de 11 horas diárias têm 67% mais chances de enfrentar problemas cardíacos. Além disso, aqueles que ultrapassam 54 horas semanais correm um risco elevado de morte por excesso de trabalho.
A Busca por Equilíbrio
Procurar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional deixou de ser apenas um desejo e passou a ser uma necessidade estratégica nas empresas atuais. Caitlin Collins destaca que “profissionais têm melhor desempenho quando têm flexibilidade, espaço mental e confiança para integrar o trabalho em suas vidas, ao invés de sacrificar o bem-estar”.
A Geração Z é a grande defensora dessa mudança, promovendo um foco na flexibilidade e na saúde mental dos colaboradores. Essa geração, mais jovem, está se distanciando da cultura de burnout como um símbolo de méritos profissionais, e empresas que insistirem em modelos ultrapassados podem perder talentos valiosos.
Transformações no Ambiente de Trabalho
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As mudanças impulsionadas pela Geração Z estão começando a reverberar em diversas práticas corporativas. Essa geração busca modernizar o ambiente de trabalho com conceitos como “conscious un-bossing” (liderança consciente, menos hierárquica) e “microturnos” (ajustes na jornada de trabalho para promover bem-estar).
Christine Royston, CMO da plataforma Wrike, acredita que essas transformações vão além de uma mera preferência. “As mudanças que estamos observando são indícios de uma nova maneira de encarar a produtividade”, afirma. A Geração Z está, sem dúvida, promovendo a adoção de plataformas de colaboração que são mais inteligentes e flexíveis.
As empresas enfrentam o desafio de estabelecer culturas organizacionais que equilibram produtividade e rentabilidade com um cuidado genuíno pelo bem-estar físico e mental de seus colaboradores. Este equilíbrio pode ser a chave para um futuro corporativo mais sustentável e humano.