Engenharia e Desastres Climáticos: Desafios e Soluções
Como restaurar comunidades afetadas por desastres climáticos através da engenharia? Esta questão foi central no painel “Desafio da Reconstrução: O Papel da Engenharia Pós Eventos Climáticos”, que integrou a programação do 12º Congresso Estadual de Profissionais (CEP) e do Colégio de Inspetores 2025. O evento, realizado nos dias 8 e 9 de agosto, promovido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), reuniu cerca de 3 mil profissionais. O foco das discussões foram as tragédias de São Sebastião, em São Paulo, e as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul em 2023 e 2024.
A mesa de debate contou com a participação da secretária adjunta da Reconstrução Gaúcha, Angela de Oliveira, e da diretora de Projetos e Programas da CDHU-SP, Maria Teresa Diniz. O presidente do Confea, Vinicius Marchese, mediou as discussões. Durante o painel, foram abordadas as ações de recuperação e o planejamento urbano implementados para mitigar os impactos das calamidades.
Maria Teresa, engenheira civil, abriu o debate detalhando as iniciativas do governo de São Paulo após a tragédia de São Sebastião, onde as chuvas devastaram comunidades, especialmente na Vila Sahy. A contenção, urbanização e parcerias público-privadas foram destacadas como métodos essenciais para a recuperação. “Nos esforçamos para identificar obras ou terrenos que poderiam ser adquiridos pelo estado”, relatou.
Com essas aquisições, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU-SP) adotou tecnologias estrangeiras para gerenciar as inundações. Maria Teresa enfatizou a eficácia da barreira rígida oca, uma solução de origem japonesa. “Essa estrutura é projetada para evitar a acumulação de detritos, que pode comprometer sua integridade”, observou.
Na Vila Sahy, severamente danificada, foi essencial explicar à comunidade a necessidade de se afastar de áreas de alto risco. “A preocupação era com deslizamentos e a dinâmica de massas. Realizamos drenagens para minimizar a inundação na cidade. O desafio é entender como conviver com esses riscos”, destacou Maria Teresa.
A Recuperação no Sul: Estratégias de Resiliência
Em relação à recuperação das cidades do Rio Grande do Sul afetadas pelos alagamentos em 2024, Angela de Oliveira apresentou diretrizes semelhantes às do Plano Rio Grande, um programa voltado para Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática. “Implementamos estratégias de financiamento através dos fundos Funrigs e Firece, adaptando diretrizes para a resiliência”, explicou Oliveira, ressaltando a importância da ciência para a tomada de decisões delicadas.
Vinicius Marchese, ao comentar sobre a colaboração do Confea, destacou: “Estivemos em uma força-tarefa para emitir as Anotações de Responsabilidade Técnica (ART), facilitando a identificação de imóveis sem condições de recuperação. Isso permitiu que o orçamento fosse redirecionado para ações mais urgentes”.
Angela também mencionou questões controversas como o Lago Guaíba e a necessidade de um diálogo social sobre a dragagem, que, segundo ela, só poderia ser decidido após estudos aprofundados. “O diálogo acadêmico é fundamental nesse processo”, completou.
As soluções para a recuperação das comunidades afetadas e a prevenção de futuros desastres foram discutidas sob várias vertentes, incluindo levantamentos batimétricos, mapeamento topográfico, instalação de novos radares e estações meteorológicas, além da manutenção e modelagem hidrodinâmica. Fortalecer a Defesa Civil também foi um ponto central na conversa.
Por fim, uma estratégia adicional que se destacou foi a revisão dos planos diretores nas regiões mais impactadas. A secretária enfatizou o papel crucial dos engenheiros nesse processo: “Nossa missão é apoiar as cidades na implementação de soluções baseadas na natureza, esclarecendo onde a população não deve retornar. Isso envolve parcerias com consultorias e universidades para garantir a eficácia das revisões e ações implementadas”.